A mera menção das palavras excêntricos e excentricidades costuma provocar reações estranhas até mesmo em pessoas educadas. Não é difícil achar que excêntricos são loucos e, muitas vezes, internam-nos em hospícios.
Ser excêntrico não é nada de mais. É apenas estar fora do centro. E pergunto: por que as pessoas devem ou têm que ficar “no centro”? Só porque os outros querem?
A questão tem a ver também com um conceito que virou moda nas discussões sobre educação moderna, o bullying.
Em primeiro lugar o bullying não é nenhuma novidade. Sempre esteve presente, mas como não tinha esse nome não era famoso.
Excentricidade e bullying estão inexoravelmente ligados. Excêntricos, estatisticamente, são “anormais.” Isso quer dizer, simplesmente, que não eles não são iguais à maioria em alguma característica. A diferença (que muitas vezes pode ser equada com raridade), na economia gera valor, mas na vida do dia a dia costuma gerar agressividade e preconceito. As pessoas olham os excêntricos como diferentes e acabam tratando-os mal, apenas porque são diferentes.
O resultado é algum tipo de discriminação. Do ponto de vista dos direitos individuais é sério que isso aconteça, porque costuma geral desaguar em maus tratos e violência.
Do ponto de vista do desenvolvimento isso é mais sério ainda, porque os excêntricos são os seres mais criativos de qualquer grupo humano. Depende da lente com que se os olha.
Para começar: todos os inventores são excêntricos. Inventores não passam de pessoas que olham como a maioria trata um assunto ou resolve um problema e dizem: esta não é a única maneira, deve haver outra. Com frequência dedicam-se a construir alguma gerinconça que resolve o problema e significa um salto no desenvolvimento.
Uma vez perguntaram a Henry Ford porque ele não fazia uma pesquisa com as pessoas sobre o que elas desejavam em matéria de transporte. Sua resposta foi simples: “Todos me diriam que gostariam de um cavalo mais rápido.” Foi a excentricidade de Ford que colocou um motor nas “carruagens”, e não apenas cavalos “turbinados.”
Nikola Tesla foi um búlgaro que viveu nos séculos XIX e XX e que é muito pouco conhecido, exceto entre especialistas. Mas o que fez Tesla? A sua descoberta mais conhecida foi a corrente alternada, esta que sai das tomadas da sua casa e faz todos os seus eletrodomésticos funcionarem. Era outro excêntrico. Se você acha que foi Thomas Edison, lamento informar, mas você está errado. Edison só tinha mais tino para relações públicas.
Compartilho a paixão pelos excêntricos com John Stuart Mill, que disse que uma das principais falhas da sociedade de seu tempo era a falta de tolerância com a excentricidade.
Em minhas aulas sobre como fazer uma tese ou dissertação (pedantemente apelidada de metodologia científica nas faculdades), tento passar para os alunos a idéia que o melhor método de escrever um trabalho é através da livre associação de idéias. Isso porque, quando damos asas à nossa imaginação, nossos pensamentos se permitem flutuar por excentricidades porque as censuramos menos.
Tento explicar às pessoas que nosso cérebro, quando liberado, produz idéias com muito mais rapidez do que conseguimos anotá-las. No momento em que travamos o cérebro para escrever tudo de maneira organizada, como nos ensina a maioria das escolas, a criatividade e a excentricidade se vão.
Certa vez, quando terminei uma aula sobre o assunto, um dos alunos me disse: “Professor, do jeito que você ensina é tão simples que parece conto do vigário.”
Este é o problema: quando saimos da “normalidade,” do que nos foi ensinado na escola primária, em que o caderno tinha que ser bonito, organizado, enfeitado e com as páginas presas na margem já perdemos a nossa excentricidade natural e 90% de nossa capacidade de pensar livremente e, portanto… de criar.
Um pai de aluno na escola em que meu filho estudou, em Brasília, perguntou a uma professora por que ela não ensinava aos alunos a fazer, e exigia, um caderno tradicional, com folhas presas na margem, organizadinho, bonito e enfeitado. A resposta dela foi maravilhosa: “Porque a vida não é um caderno, é uma porção de folhas soltas.”
Portanto, só uma coisa para lembrar quando você achar que o esquisito é apenas esquisito, ou quando você, em alguma situação, sentir-se diferente dos que estão à sua volta: pense que você pode estar censurando um excêntrico ou sendo censurado como um e que alguma criatividade importante para você, para um grupo ou para a humanidade pode estar se evaporando ou sendo censurada.
A censura, aos pensamentos, à sua circulação e à sua divulgação, não é apenas abominável do ponto de vista ideológico da primazia da liberdade pessoal, mas sempre é cerceadora da criatividade humana a retardadora do desenvolvimento, não importa quão belas e elegantes forem as roupas com que a vestirem ou enfeitarem.
(Publicado em “OrdemLivre.org“)
EXCELENTE ARTIGO.
Muito bom, parabéns.
Nada mais que o futuro da educação.
abraço
Muito bom!