Chuvas torrenciais, incêndios devastadores, calor e frio extremos, secas prolongadas. Esses são alguns dos quadros climáticos que se intensificam cada vez mais e marcam presença nos noticiários, preocupando líderes de todo o mundo.
Mais de Marcelo Souza
O sétimo continente
Em uma parte da Europa, enchentes devastam cidades inteiras, enquanto incêndios destroem outras áreas do mesmo continente. Ondas de calor invadem o Canadá e os Estados Unidos. Em contrapartida, o Brasil apresenta baixas temperatura, provocando uma nevasca inédita.
Estamos vivendo o Apocalipse anunciado na Bíblia? A reposta é não! O aquecimento global é o único argumento possível. Os últimos cinco anos foram os mais quentes desde 1850 e, segundo estudos, nas próximas duas décadas devemos observar um acréscimo significativo na temperatura do planeta se nada for feito.
Em resposta a esse cenário climático mundial, acontece a COP26, em Glasgow no Reino Unido, até o próximo dia 12 de novembro. A conferência deverá contar com a presença de delegações de 200 países. Entre líderes mundiais, jornalistas, negociadores, empresas e ativistas, 25 mil pessoas devem movimentar o evento, que é o mais esperado desde o acordo de Paris.
COP é a sigla para Conference of the Parties (Conferência das Partes), organizada pelas ONU para tratar especificamente sobre as mudanças climáticas. A frequência da conferência é anual, sendo a primeira edição realizada em 1995 em Berlim, na recém unificada Alemanha, desde então, o encontro se repete todos os anos.
A COP26 estava prevista para ser realizada em 2020, mas, devido a pandemia do Covid-19, foi remarcada para 2021. Se por um lado houve um atraso de um ano no calendário, por outro, os países tiveram mais tempo para se prepararem, o que é justificável, pois apesar da urgência climática, as nações estavam imersas no combate a pandemia.
A conferência vem gerando interesse crescente por parte da população, isso pode ser constatado pelo relevante crescimento nas pesquisas em buscadores como o Google. E não é para menos, afinal, estamos falando da conferência global mais aguardada dos últimos anos. O que for tratado durante a COP26 tem o potencial de mudar o curso do planeta, que hoje dá indícios claros de uma grave crise climática.
Contudo, para que se possa entender a relevância do evento, precisamos falar de outra conferência, a COP21, que aconteceu em 2015 na França, tendo como resultante o conhecido, pelo menos de ouvir falar, Acordo de Paris.
O documento é um marco na luta contra as mudanças climáticas e foi a primeira vez que todos os países concordaram em cooperar para conter o aquecimento global em 1,5 °C até 2050 e se comprometeram em investir quantias expressivas em busca desse objetivo. Os países assumiram a “lição de casa” de apresentar planos nacionais, definindo o quanto eles reduziriam as suas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Esse plano foi batizado de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês).
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o NDC do Brasil até 2025 é reduzir as emissões de GEE em 37% abaixo dos níveis de 2005, até 2030 diminuir as emissões em 43%, aumentar a participação de bioenergia sustentável na matriz energética para 18%, participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética e restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas.
Além das NDC dos países, ficou definido que no intervalo de cinco anos, cada nação voltaria com um planejamento atualizado e por isso a COP26 é tão importante e esperada, sendo o primeiro encontro de “prestação de contas” após o acordo de Paris.
O que já sabemos é que o compromisso assumido em 2015 não chegou perto da meta de 1,5°C de redução, muito pelo contrário, no ritmo que estamos vivendo, mesmo com o lockdown vivido durante a pandemia, que, naturalmente contribuiu para a redução de emissões, não caminhamos para uma redução de 1,5°C, mas, na verdade, para um aumento de 3°C.
As discussões do evento serão organizadas em quatro bloco:
Mitigação: atualização das metas de emissões até 2030, que sejam aderentes com uma realidade de Net Zero (emissões liquidas de GEE, zero) até 2050.
Adaptação: as mudanças climáticas, já deixam mudanças irreversíveis, quais medidas serão adotadas para preservar os ecossistemas que foram afetados.
Finanças: quais instrumentos de financiamento para construção de um mundo Net Zero em 2050.
Colaboração: em busca do atingimento das metas do acordo de Paris, criar mecanismos que acelerem a cooperação ente os países.
A leitura que faço é que tudo o que o planeta Terra viveu nos últimos anos causou um senso de urgência e fez os governos concordarem que uma ação coletiva precisa ser feita de forma imediata e assertiva. Mesmo os países que, tradicionalmente são grandes emissores de GEE, como Estados Unidos e China, estão com uma postura diferente para a COP26.
Certamente, veremos discursos muitos mais direcionados à prioridade de fazer com que as nações se comprometam a zerar suas emissões até 2050 com ações mais agressivas em curto prazo como 2030 e, para isso, há um consenso claro: o clima no mundo só vai melhorar com o abandono pleno da utilização de carvão e petróleo como fontes de energias, que precisam ser substituídas por fontes de energia limpa.
Já existem algumas repostas, tais como carros elétricos (passeio e transporte), o fim das termoelétricas, reflorestamento, mecanismos de financiamento, que fazem parte do portifólio, mas ainda há muitas dúvidas e incertezas para o futuro. É claro que não estamos falando de uma tarefa simples, pois desde a chamada era das revoluções, praticamente construímos a nossa civilização debruçada sobre emissões, mas precisamos acreditar e lutar para que algo seja feito.
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