Os países desenvolvidos, em sua grande maioria, têm mecanismos para selecionar alunos para as universidades. O ingresso nessas instituições está diretamente vinculado ao ensino médio – seja à mera conclusão, seja às notas obtidas, seja a exames realizados em torno dos currículos do ensino médio. Nos países em que não há barreira de entrada para as universidades, a seleção se faz tipicamente ao longo ou ao final do 1o ano: ficam apenas os alunos com chances de conclusão. As taxas de conclusão de curso superior variam muito de instituição, curso e país – tipicamente as instituições e os cursos mais seletivos têm taxas mais elevadas de conclusão. Nos países desenvolvidos, a porcentagem dos que concluem é superior a 70%.
Europa e Estados Unidos são os casos mais estudados, mais conhecidos e que normalmente temos maior capacidade de compreender – pela proximidade e familiaridade. Nesses países encontra-se a maioria das 500 melhores universidades do mundo. As duas histórias são bem diferentes, mas no essencial elas convergem: o melhor preditor do desempenho acadêmico é o sucesso escolar anterior do aluno, especialmente em matérias afins. Uma boa nota num teste rigoroso de química é um forte indicador de que o candidato tem boas chances de concluir um curso superior desta disciplina.
Mais e mais as sociedades se preocupam não apenas com o sucesso acadêmico, mas também com o sucesso na vida – especialmente na vida produtiva. E as instituições que se preocupam em recrutar alunos qualificados investem muito para identificar não apenas alunos talentosos e com um perfil interessante, mas também alunos com perfis diferenciados para estimular a convivência com as diferenças.
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Nesse contexto, surge uma novidade que interessa a todos: o “College Board”, instituição que administra o SAT, está investigando dois instrumentos com alto valor preditivo do sucesso acadêmico e profissional: o conhecimento da Constituição Norte-americana e o conhecimento do funcionamento dos algoritmos usados para programar computadores e robôs.
Conhecer a Constituição norte-americana pode se traduzir em conhecer os princípios e regras que norteiam o funcionamento da sociedade. Possivelmente não é muito diferente do que se espera de uma boa formação intelectual baseada no estudo dos “clássicos”. Até aí a novidade é interessante, mas não acrescenta muito. A novidade talvez resida na importância atribuída ao conhecimento aliado à capacidade para agir com equilíbrio numa sociedade que ao mesmo tempo em que valoriza a liberdade individual, impõe limites de respeito, tolerância e convivência com a diversidade.
Mais intrigante é o segundo teste: por que seria importante conhecer algoritmos? Isso fica para o próximo post.
Fonte: “Veja”, 19/02/2019