O aumento ou queda da taxa Selic está sempre entre os principais assuntos relacionados ao universo econômico. Isso acontece porque a Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, que influencia todas as demais taxas de juros do país. O nome Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e Custódia, e refere-se a um programa virtual onde instituições financeiras compram ou vendem os títulos do Tesouro Nacional.
O editor-chefe da casa de investimentos Apex Partners, Luan Sperandio, explica que a taxa Selic é a mais importante da economia e a considera como o principal instrumento de política monetária do Banco Central. Ouça o podcast!
“O objetivo principal é o controle da inflação. Eu falo que é o principal porque também há outros. Podemos citar aqui, por exemplo, o controle do compulsório, entre outras ferramentas. Mas acho que a função da taxa Selic é justamente influenciar o custo do próprio dinheiro, isto é, as taxas de juros dos empréstimos, financiamentos e das aplicações financeiras de uma forma em geral”, analisou.
Uma dúvida recorrente é sobre como a taxa Selic é calculada. Conforme explica Luan Sperandio, a avaliação acontece quinzenalmente, a partir das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central.
“Nesses encontros, são discutidas as perspectivas para a economia brasileira e a macroeconomia global. São avaliadas diversas questões como condições de liquidez e também como os mercados estão se comportando. Depois de analisar todo esse contexto, é votado o rumo da Selic, considerando quais serão os principais riscos e principais potenciais do cenário macroeconômico à frente”, esclareceu.
Para manter essa taxa equilibrada, é fundamental que haja estabilidade fiscal, uma vez que o governo não é financiado apenas por tributos, mas também a partir da emissão de títulos da dívida. “Se tivermos um governo irresponsável fiscalmente, o risco de calote aumenta e os investidores passam a exigir ou a demandar valores maiores para emprestar ao governo”, acrescentou.
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Nesse sentido, o especialista lembra que em 2014, quando o Governo Federal deixou de lado a política de superávits primários, ou seja, passou a gastar mais do que arrecadava, houve um aumento brutal do Risco Brasil, atrelado a uma pressão muito forte para Selic subir, que chegou a 14,25%.
“Em um segundo momento, já após o impeachment da Dilma, tivemos uma mudança do cenário base, que veio acompanhada por reformas estruturais, como a implementação do teto de gastos, o fim da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que definia uma taxa de juros subsidiados para o BNDES, e também tivemos a reforma da previdência. Isso gerou uma sustentabilidade maior das contas públicas e contribuiu para baixar a taxa Selic a um valor de mínima histórica”, recordou.
Com a pandemia do Covid-19, mais uma vez o cenário mudou e o Banco Central adotou uma política acomodatícia, ou seja, estimulativa do ponto de vista macroeconômico, resultando em uma taxa Selic de 2%, a menor da história.
“Nunca tínhamos tido uma Selic tão baixa e agora estamos tendo a reversão desse quadro, até porque a inflação já está batendo quase 2 dígitos. Neste momento, o Banco Central está fazendo uma medida um pouco mais contracionista. Então, basicamente, para manter a taxa Selic equilibrada é preciso ter um equilíbrio nas contas públicas. Precisamos de responsabilidade fiscal”, destacou.
De maneira geral, o impacto da taxa Selic na economia costuma ser grande porque ela muda o custo de captação do dinheiro, ou seja, ela muda o valor do dinheiro de acordo com seu aumento ou queda.
“Temos diversos títulos e classes de ativos que são indexados à própria Selic, como a poupança, títulos de CDB, títulos de Tesouro Selic, taxa DI, que é o juro futuro, títulos indexados ao CDI. Então quando se tem um aumento da taxa Selic, quando ela sobe, o consumo é desestimulado e tende a favorecer a queda da inflação. Agora quando a Selic cai, tomar dinheiro fica mais barato. Então os juros cobrados nas operações ficam menores e o desenvolvimento econômico é estimulado”, concluiu.
Buscar o equilíbrio fiscal é, sem dúvidas, um dos principais pilares para a retomada da economia brasileira. Para que isso aconteça, é importante fiscalizar os gastos públicos e monitorar as medidas que têm sido aprovadas pelo governo.