O conceito de think tank faz referência a uma instituição dedicada a produzir e difundir conhecimentos e estratégias sobre assuntos vitais – sejam eles políticos, econômicos ou científicos. Assuntos sobre os quais, nas suas instâncias habituais de elaboração (estados, associações de classe, empresas ou universidades), os cidadãos não encontram facilmente insumos para pensar a realidade de forma inovadora. Os think tanks, portanto, não fazem o menor sentido em sociedades tradicionais, onde os problemas e as soluções são sempre os mesmos por definição. Nas sociedades modernas e cada vez mais complexa, porém, há a necessidade de espaços que reúnam pessoas de destaque, com autonomia suficiente para se atreverem a contestar criativamente as tendências dominantes, especialmente quando elas se tornam anacrônicas.
Com o transcorrer do tempo, as instituições são levadas quase insensivelmente a reproduzir burocraticamente suas lógicas de meios e fins, tornando muitas de suas estratégias e conhecimentos anteriormente provados e eficientes, em caminhos que hoje apontam para a decadência. Essa é uma lei de ferro que abrange o conjunto das instituições. Com a recuperação da democracia, por exemplo, o Brasil conseguiu, nos anos 80, desenvolver uma importante rede de ONGs que, em muitos casos, mesmo sem ser a intenção explícita, funcionavam como verdadeiros think tanks no campo de variados problemas sociais e também ambientais. Elas possuíam autonomia financeira e ideológica, e se dedicavam a políticas de desenvolvimento e proteção, mas também a pensar de forma original para os padrões existentes da época. Mas, infelizmente, em muitos casos, essa capacidade de inovação foi-se apagando. O tempo foi transformando-as em entidades dependentes de orçamentos estatais e de ideologias políticas. Perderam, assim, sua capacidade de serem think tanks, ao mesmo tempo em que continuavam servindo à sociedade nas áreas de sua competência.
Paradoxalmente, o processo de consolidação da democracia no Brasil, no final dos anos 90, não veio acompanhado da presença significativa de think tanks que trouxessem para a política uma contribuição semelhante à que tiveram as ONGs com relação aos problemas sociais. Embora a carência no campo político não fosse menor que a do campo social, se gerou certo senso comum que depositou na emergência de novos partidos políticos – basicamente PT e PSDB – a capacidade de inovar no campo do pensamento e da estratégia. A realidade nos mostra hoje que esse senso comum estava errado. Os novos partidos políticos conseguiram inovar durante um tempo, mas as demandas do dia-a-dia rapidamente lhes impuseram um ritmo burocrático, que consumiram suas energias de juventude. Algumas lideranças políticas até perceberam esta situação e tentaram criar instituições que alimentassem seus partidos políticos com idéias e projetos inovadores. Mas, obviamente, esses vínculos lhes impediam de ter a suficiente liberdade para criticar sem preconceitos, tanto a um lado como ao outro do espectro político, e aos poucos acabaram também perdendo o fôlego.
Comparado com a realidade dos Estados Unidos e dos principais países europeus, o Brasil é hoje quase um deserto de think tanks. São raras as exceções que qualificam para serem chamadas assim. É são raras porque as condições para qualificar como tal são extremamente difíceis de produzir. No Brasil de hoje, a produção intelectual de políticas inovadoras e progressistas exige desvincular os suportes institucionais das mesmas do sistema financeiro e ideológico dos partidos políticos existentes, para assim ter total liberdade de colocar no centro de suas preocupações o fortalecimento dos cidadãos. Cidadãos que, quando conseguem superar a apatia política que o comportamento dos atores políticos lhe produz, se percebem crescentemente expropriados por partidos com forte inclinação ao fisiologismo, que colonizam a representação popular em benefício próprio sem constrangimento (ou melhor: se “lixando” da opinião pública, como já foi dito por um representante do Parlamento há pouco). Da mesma forma, um think tank está obrigado a colocar as ideologias num segundo plano. Seus membros não podem nunca guiar seus comportamentos de forma ideológica, se quiserem cumprir seu papel. As ideologias podem dar eventualmente subsídios importantes para pensar a realidade, mas na hora de emitir juízos e elaborar estratégias, antes de qualquer ideologia, se coloca a análise crua e concreta da dinâmica da realidade. Por assim dizer, os think tanks devem, assumir seus valores de forma cientifica e pragmática.
A potencialidade de um think tank se mede tanto pela pluralidade de seus membros como pela força de suas capacidades para repensar, em comum e sem preconceitos, os temas da agenda política do país e do mundo. Os membros de um think tank podem e devem ter orientações claras a favor das principais valores civilizatórios de nossa cultura – democracia, liberdade, estado de direito, economia de mercado, justiça social e ambiental etc. –, mas o que não podem é agir como militantes cegos de supostos interesses universais. Mesmo quando tendo algumas verdades para dizer, a atitude militante leva à implosão da capacidade criativa, – tal como já aconteceu com os mais importantes ONGs sociais e “think tanks” políticos no Brasil dos anos 80 e 90. Todos os cidadãos podem ter apostas políticas pessoais, mas a exigência de colocar por cima de suas crenças e interesses à liberdade e à pluralidade de idéias é o que o define, essencialmente, um indivíduo como membro de um think tank. Sem um espírito cívico maior como guia, os think tanks não conseguiriam oferecer seus esforços para a comunidade em seu conjunto, independentemente dos partidos e da ideologia que estivessem no poder e na oposição. Os think tanks são instituições seculares por natureza, elas não podem conviver, nem com a militância, nem com o fundamentalismo.
Concluindo, os think tanks devem assemelhar-se ao máximo do que constitui sua razão de ser, que é contribuir para a qualificação do debate dos principais pontos da agenda do país, através de conhecimentos fundamentados e perspectivas valorativas transparentes e plurais. Apontando com isso, prioritariamente, ao empoderamento dos cidadãos e, por extensão, ao melhoramento do comportamento cívico do conjunto dos atores políticos e sociais do país. No plano político, as principais carências do Brasil se traduzem na precariedade de seu espaço público. Sem o fortalecimento do mesmo não existe a menor chance de que as reformas que o Brasil tanto precisa não sejam colonizadas pelos interesses e as lógicas sectárias e particularistas que atravessam a nação. Em outras palavras, os think tanks, justificam sua existência agindo em prol do espaço publico.
No Brasil, as ferramentas de comunicação, ainda no Século XXI, são rudimentares e a maioria dos homens ainda não sabe operacinalizá-las.
A caracterização de Think Tanks no Brasil ainda é incipiente e nossos representantes no exterior pouco conseguem discutir a idéia de política externa.
Os partidos políticos e suas idéias inovadoras são insuficientes para criticar os interesses das potenciais econômcias sobre o Brasil, ainda colonizado pelas idéias e capital estrangeiro.
Ok! como elas se financiam e qual seria a natureza juridica das mesmas
Boa questão, Maria da Graça. Como podemos sustentar atividades dessas organizações que atuam na contramão do pensamento hegemônico. Aliás,é de se perguntar se essas ongs não acabaram capturadas justamente para que pudessem financiar suas atividades, ainda que perdendo sua autonomia.