Enquanto seguimos na adolescência da vida, o mundo vai se tornando mais complexo, exigente e desafiador. Nosso amadorismo é uma sala de brinquedos nos sofisticados jogos do poder global. Não somos levados a sério porque nossos players são fracos e inconfiáveis. Sem cortinas, o Brasil é um país de riqueza continental com uma classe política de terceira categoria. Infelizmente, continuamos sendo uma colônia tropical do capitalismo globalizado: com o Real em curva de desvalorização, vendemos produtos cada vez mais baratos e, para piorar, ainda exportamos talentos intelectuais que, aqui, poderiam fazer a diferença para melhor.
A pergunta, que não quer calar, é uma só: o que fazer para mudarmos a ordem dos acontecimentos?
Ora, somos um país atrasado porque fazemos insistentes escolhas erradas.
Teoricamente, a lógica a simples: não há bons governos sem boas ideias. Acontece que, durante longos anos, fomos governados por premissas doentiamente equivocadas. Aliás, a cegueira ideológica e o fanatismo partidário tornaram o Brasil um oásis da burrice política. Aqueles que, eventualmente, se insurgiram contra o desmando estabelecido foram vítimas de raivosos ataques histriônicos; a tática era destruir qualquer ameaça de ponderação racional ou pensamento superior. Tudo meticulosamente armado para saquear o país, amedrontar os espíritos livres e tornar hegemônico um criminoso projeto de poder. Sim, deu no que deu.
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Em um contexto de furunculose aguda, a famigerada Operação Lava Jato, sob certa ótica, representa uma incisão de limpeza institucional com vistas ao estabelecimento de um sério e autêntico capitalismo nacional. Sem ampla promoção da liberdade econômica, nosso povo seguirá refém da pobreza e da subsistência estatal. O problema é que nosso modelo mental é atrasado e, por assim ser, desconectado com as tendências de futuro. A própria demolição do ensino público de qualidade foi um ato estratégico de aprisionamento do espírito criador dos brasileiros, diminuindo nossa capacidade de sonhar e, ato contínuo, produzir inovadoras alternativas de desenvolvimento.
Estamos vivendo um severo impasse político no Brasil, com riscos reais de retrocessos em nossas instituições. O momento é delicado. Nas densas faixas de transição da História, a sabedoria invulgar de Henry Kissinger ensina que o the statesman é “como um dos heróis do drama clássico que teve uma visão do futuro, mas que não pode transmiti-la diretamente a seus compatriotas”, devendo, no entanto, agir “como se sua intuição já fosse experiência, como se sua aspiração fosse verdade”. Enfim, liderança é caminhar com inabalável convicção sobre o desconhecido e fazer o que é certo.
Nossa luta contra a corrupção está longe do fim. Sabidamente, o poder corrupto joga pesado, não possui freios morais e desconhece a culpa pela maldade. A hora exige, portanto, o radicalismo da decência cívica que eleva a coragem pública e enaltece a ética da democracia. Não podemos mais nos omitir nem temer o enfrentamento pelas causas do bem. Aqueles que realmente acreditam no Brasil têm o dever de assumir a responsabilidade histórica de enfrentar e vencer as forças do atraso, possibilitando uma vida melhor a todos e cada um de nós.