Tivemos, no último fim de semana, eleições em diversos países para o Parlamento Europeu. Apesar de as urnas não revelarem uma perda de assentos para os defensores de uma Europa unida, alguns dos resultados trouxeram más notícias para a paz e a prosperidade nessa parte do mundo.
A França decidiu castigar Macron, preferindo a extrema direita de Marine Le Pen, no que se confirmam as suspeitas sobre a natureza e a força dos chamados “gilets jaunes”.
No mesmo sentido, na Polônia, o partido conservador, que atualmente governa o país, conseguiu a vitória frente à aliança de oposição.
No Reino Unido, o partido do brexit lidera a apuração.
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A Alemanha mostra sinais de enfraquecimento da base de Angela Merkel, sem que visões extremadas ganhassem território importante, mas é bom lembrar que o antissemitismo vem crescendo de forma assustadora no país.
Em outros termos, ganha espaço uma visão de mundo mais nacionalista, xenófoba e avessa a trabalhar de forma concertada com outras nações sobre problemas partilhados.
Mesmo com exceções, como Portugal e Espanha, parece que o sonho de Monnet e de tantos outros de uma Europa pacífica, inclusiva e próspera, depois de guerras sangrentas que marcaram não só a primeira metade do século 20 mas boa parte do anterior, esvaiu-se.
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É verdade que a empreitada colonial da Europa não havia se interrompido com o início da construção da proposta de Monnet, posteriormente endossada por Churchill.
Havia, no entanto, na visão do político francês, frente à tragédia humanitária ocasionada pela Segunda Guerra, com grandes deslocamentos de refugiados entre países e a vida em escombros, a aposta numa realidade alternativa.
Esta utopia que se fez verdade, não sem os obstáculos próprios da difícil arte de construção de consensos, parece agora desmoronar, anos depois da inclusão dos países do leste europeu, muitos dos quais sem tradição democrática e já capturados pela onda populista.
Vai ser desafiador manter o projeto europeu de pé e aperfeiçoá-lo no curto prazo. O ódio como discurso e política pública ganhou espaço demais.
No longo prazo, porém, é bom lembrar as palavras sábias de outro francês, Jacques Delors. Ele publicou um relatório, em meados dos anos 1990, no qual defendia que a educação deveria ensinar a nova geração simultaneamente a estar confortável com sua identidade e a viver junto, aceitando e celebrando as diferenças.
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Que o sonho de Monnet, de Delors e de tantos outros não se torne um pesadelo e que a educação de novas gerações enfatize a paz e a coesão social. Sim, como o voto nos verdes faz crer, outro mundo é possível!
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 31/05/2019