Luiz Inácio da Silva, quem diria, resolveu chamar o povo de ignorante. Ou, mais precisamente, de burro.
Num comício em Guarulhos, onde encarnou mais uma vez o apresentador de auditório – só faltou gritar: “A Dilma vai para o trono ou não vai?” –, o presidente decidiu apelar.
Recorrendo aos seus superpoderes de tutor da massa, disparou do palanque as palavras hipnóticas, caprichando na voz de ogro que seus súditos amam ouvir. A hipnose consistia basicamente em dizer, sobre o escândalo na Receita Federal:
Vocês não estão vendo nada disso.
Vocês não estão ouvindo nada disso.
Vocês não estão sabendo de nada disso.
Textualmente, Lula disse o seguinte, aos berros: “Cadê esse tal de sigilo que não apareceu até agora?! Cadê o vazamento das informações?!”
A premissa do grande líder ao questionar “esse tal de sigilo” é óbvia: o povo é idiota e não sabe o que é sigilo fiscal. Porque o que aconteceu com o tal do sigilo de Verônica Serra todo mundo sabe: foi destruído, pulverizado pela espionagem dentro da Receita Federal.
De fato, o sigilo desapareceu – e o que não apareceu até agora foi o mandante do crime. Só se sabe que o autor da falsa procuração foi filiado ao PT.
Com sua tentativa de hipnose, Lula quis confundir “sigilo” com “dossiê” ou algo similar, forçando uma inversão dos fatos. Quis insinuar que é preciso aparecer um documento pirata qualquer, como um daqueles com a grife dos aloprados, para se confirmar o escândalo.
Lula sabe da quebra do sigilo de Verônica. No seu canal direto e particular com o povo, resolveu negá-la. Apostou na mistificação. Mentiu.
É cada vez mais fácil entender por que o Plano Dilma arquiteta o controle da imprensa. Numa hora dessas, desabaria sobre os editores de jornais e telejornais o crivo dos conselheiros do povo. Eles apontariam motivação ideológica na cobertura do escândalo da Receita – que as autoridades tentaram esconder.
Lula e o PT não querem intermediários na sua conversa com o povo. Querem ser sua própria imprensa marrom.
Publicado no blog de Guilherme Fiuza no portal da revista “Época”
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