O ponto central nem chega a ser o fato de, ao abrir as portas para o “bolivariano” Hugo Chávez, o Mercosul jogar uma pá de cal sobre os princípios que fundamentaram a criação do bloco.
O velho coronel não é o que se pode chamar de democrata – e a mais recente prova disso é a maneira com que ele tem conduzido a campanha que garantirá seu “nãoseiquantésimo” mandato de presidente da Venezuela.
Pelas leis do país, ele e os demais candidatos nas eleições do próximo dia 3 de outubro (inclusive seu principal opositor, Henrique Capriles) terão o mesmo tempo de propaganda nos canais de televisão: 3 minutos diários cada um.
Só que o “bolivariano”, nesses dias que antecedem às eleições, intensificou a convocação de “cadeias nacionais” – nas quais fala o que quer pelo tempo que bem entende. E, assim, faz campanha por muito mais tempo do que os rivais.
Até aí, tudo bem: é essa cara de pau que torna Chávez invejado por outros governantes que só não agem da mesma forma porque não podem (e nunca porque não querem).
Portanto, o que torna o Mercosul menor com a presença da Venezuela não são as ideias de Chávez. O problema é que por trás da inclusão do novo sócio está a morte dos fundamentos econômicos que deram origem ao bloco.
Em 1991, os governos do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai firmaram o Tratado de Assunção num momento em que duas circunstâncias comuns os uniam. A primeira era o fato de todos estarem, naquele instante, superando ditaduras.
A outra era o fato de viverem, então, o auge de problemas econômicos que expunham sua fragilidade perante o mundo. A ideia do bloco – que se sustentava sobre uma aliança aduaneira que começou a funcionar em dezembro de 1994 – não era chamar os países ricos para o confronto.
Era, sim, ganhar musculatura e aumentar a força relativa na hora de negociar contratos com os parceiros internacionais. Com a chegada da Venezuela, essa definição cede definitivamente lugar para a tese argentina, segundo a qual a razão de ser do Mercosul é fomentar negócios no interior do bloco – e não de seus integrantes com os outros países.
A bem da verdade, o bloco nunca chegou a cumprir o objetivo original em sua plenitude – mas ainda mantinha viva a esperança de que isso pudesse vir a acontecer. Desde o início, o Brasil sempre pagou pelo fato de se unir a parceiros menos competitivos.
Em alguns momentos, seus interesses deixavam de ser respeitados porque, como a parte mais forte, podia conceder benefícios aos demais. Em outros instantes, levava-se em conta os interesses dos parceiros que, por serem a parte fraca, sempre eram mais aquinhoados.
E toda vez que essa moeda de lados idênticos era lançada para definir a sorte do Mercosul, o Brasil saía perdendo. Com a Venezuela no bloco, esse discurso fica ainda mais fortalecido.
O país de Chávez ainda tem o agravante de prometer e não cumprir os acordos que celebra com os parceiros – e os calotes que deu na Petrobras em torno da construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, são as provas disso.
O Brasil ainda terá motivos para se arrepender de ter aberto a Chávez as portas do Mercosul – que desde ontem, para todos os efeitos, pode ser considerado um organismo morto.
Fonte: Brasil Econômico, 01/08/2012
Faltar democracia também falta muito no Brasil ne? Uma verdadeira farsa a idéia de que existe mais democracia em países como Colômbia e o Paraguai Pós golpe hoje do que na Venezuela, Equador e Bolívia.
Muito pelo contrário mesmo antes de Lugo, o Paraguai é um país marcado por golpes e a Venezuela é uma democracia desde os anos 50!!A fragilidade democrática e instituicional do Paraguai facilitou a quebra da democracia. Já estive duas vezes em assuncion e falo com propriedade, trata-se de um país complexo, de diferentes maneiras colonizado pelo Brasil, pela usina de itaipu, pelo papel que cumpre ciudad del leste como taxfree de muamba para SP, pela posse de mais da metade das terras, enfim tem conflitos no campo, uma oligarquia no senso clássico e uma grande apatia em Assuncion.
Acompanhem com seriedade antes de lançar bravatas anti-bolivarianas, só porque hoje se faz política de estado, sul-sul, Brasil ten voz para tudo e não a simples macaquice de repetir tudo de Washington Alca etc