O termo blockchain está ganhando cada vez mais atenção mundial, porque apesar de ter surgido da união entre o mercado financeiro e a tecnologia e, realmente, estar muito associado às transações comerciais, ele já está presente em diversos outros setores.
Para contextualizar, blockchain é um sistema que possibilita o rastreamento do envio e do recebimento de algumas informações pela internet. Esse processo é feito por fragmentos de códigos gerados online, em que cada um desses pedaços carrega informações que se conectam em uma cadeia, por isso o nome “blockchain”, ou em sua tradução literal, cadeia de blocos.
É muito comum associar o blockchain às criptomoedas, já que é esse sistema que possibilita as transações e o funcionamento das moedas digitais, como o Bitcoin. Mas suas alternativas de uso vão muito além, e já se fazem presentes nas commodities, no governo e até no mercado de arte, como destaca o CEO e cofundador do PandaPay, Eduardo Salvatore. Ouça o podcast!
“Nós temos vários setores utilizando os benefícios de auditabilidade [possibilidade de validação], de descentralização e de transparência da tecnologia como um todo. O principal hoje é o setor financeiro de pagamento. No viés de tokenização de ativos físicos ou digitais, temos o mercado da arte, com os NFT’s (tokens não-fungíveis), como no caso do artista Beeple, que vendeu um quadro de mais de 30 milhões de dólares utilizando essa tecnologia. Nas commodities, o pessoal está tokenizando o que seria uma safra de milho, uma tonelada de soja, esse tipo de coisa. No setor governamental, também temos tido vários casos de uso de votação, para conseguir trazer transparência para o sistema, ou também, temos o exemplo da iniciativa do BNDES, o BNDESToken, que permite o rastreamento de onde aquele dinheiro foi gasto depois que foi emprestado”, explicou.
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Agronegócio e as novas tecnologias
Um dos setores que tem sido fortemente impactado pelo blockchain é o agronegócio, especialmente pela transparência e auditabilidade que o sistema traz para toda a cadeia produtiva.
“Se eu tenho um viés de não maus-tratos aos animais, ou de não uso de agrotóxicos, consigo escanear um QR Code em um supermercado, e posso ter ali, de maneira imutável e auditável, todo o processo produtivo daquele bem que eu estou consumindo. É uma maneira, também, de reduzir a fraude, que é muito comum no mercado de vinhos. Por exemplo, uma garrafa que pode chegar a custar dezenas de milhares de reais, eu posso ter a certeza de que ela veio daquela vinícola específica”, exemplifica.
Outro benefício da tecnologia para o setor é a previsibilidade possível com a tokenização das commodities, que consiste em transformar uma tonelada de alguma cultura agrícola, como soja, milho ou café, em um token, pelo qual é possível acompanhar essa commodity no mercado global.
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Dessa maneira, os interessados podem comprar esse token e fazer um hedge [estratégia de investimentos que tem o objetivo de proteger o valor de um ativo de variações futuras], travando o preço do produto, como observa Eduardo.
“Ele pode comprar um token que está disponível em uma corretora de criptomoeda, sem precisar necessariamente de um banco, que é uma estrutura muito mais onerosa para fazer esse hedge. Ao comprar esse token, essa moeda digital, é garantida a troca, a reivindicação por uma tonelada que será entregue em casa”, pontuou.
No Brasil já existem alguns projetos como o Cacau Digital e a Criptosoja, que utilizam a tokenização como estratégia para diminuir as barreiras globais de troca, de compra e de venda. “Os avanços são nesse sentido, de transparência, auditabilidade e de trazer previsibilidade no preço daquele ativo de difícil armazenamento físico”, completou.
Transparência, desburocratização e liquidez
Para Eduardo, o blockchain trará mudanças e soluções capazes de impactar a sociedade como um todo através da tokenização de ativos reais e digitais. “Você poderá emitir um token, que representará de alguma maneira um ativo. Pode ser um programa de fidelidade, um programa de incentivo da sua própria empresa, como também uma tonelada de soja, cacau, café… E você vai conseguir trazer todos os benefícios, não só de transparência, mas também de transação compra e venda, de transferências sem fricção, em um ambiente digital. Tudo terá ali uma moedinha que irá representar esses direitos para você, e será possível repassar, trazendo muito mais liquidez para os mercados que hoje não têm”.
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A transparência do blockchain também será uma aliada no combate à corrupção, com a possibilidade de abertura das caixas pretas, não só de votações, mas de licitações e contratos. “Vai depender muito de força política, mas tem tudo para ser feito”, afirmou.
Toda inovação causa certa estranheza e receio no início, mas de modo geral ela surge para nos ajudar na resolução de problemas e aperfeiçoamento de sistemas. Portanto, é nosso papel entender como cada um desses avanços funciona, já que eles, como o caso do blockchain, prometem ser ferramentas não só de desenvolvimento econômico, mas também de fortalecimento da nossa democracia.