O quanto um país consegue crescer sem esbarrar em gargalos de capacidade instalada, infraestrutura e mão de obra qualificada é o que os economistas chamam de crescimento potencial de longo prazo. Estimá-lo não é tarefa fácil, pois é necessário conhecer o estoque e a qualidade da mão de obra (capital humano), de máquinas e equipamentos e da infraestrutura. É necessário também estimar o impacto de outros fatores sobre o funcionamento da economia. Por exemplo, um ambiente de negócios difícil, com complexidade de regras e leis, exigindo mais gastos das empresas com advogados e contadores, reduz a produtividade do setor produtivo e o potencial de crescimento.
No Brasil, uma primeira aproximação do tamanho desse potencial seria a média de crescimento do PIB desde o Plano Real, que foi em torno de 2,0-2,5% ao ano. É provável, porém, que o potencial hoje esteja abaixo de 2%, por conta dos vários anos de reduzido investimento e a má alocação de recursos públicos (por exemplo, a construção de estádios, em vez de políticas para melhorar a qualidade da mão de obra). Se nada for feito, o quadro vai se agravar, pois, daqui para frente, o crescimento da força de trabalho será inferior ao da população (fim do bônus demográfico).
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Otimismo cauteloso
O estrangeiro aguarda
Nosso capital humano é um grande entrave ao crescimento. Os empresários enfrentam dificuldades para contratar mão de obra qualificada, apesar do elevado desemprego. Uma parcela da população está à margem do mercado de trabalho por falta de qualificação.
Na comparação internacional, o que distingue o Brasil não é o tamanho do gasto em educação pública, mas sim os resultados. A ineficiência salta aos olhos. Gastamos 6% do PIB, o que nos coloca no grupo dos 20% dos países que mais investem em educação. Apesar disso, apenas 30% dos alunos do ensino médio têm desempenho satisfatório em exames internacionais (Pisa). O Brasil destoa também pela elevada evasão escolar, com 15% dos jovens entre 15 e 17 anos fora da escola. Ainda não cumprimos a Constituição, que estabelece a educação obrigatória e gratuita para pessoas entre 4 e 17 anos.
Apenas 37% dos jovens têm formação profissional, que são principalmente os filhos da elite. Justamente quem tem menos filhos – as mulheres mais pobres e com menos escolaridade têm 2,9 filhos, contra 1,2 das mais ricas e com maior escolaridade.
São 23% dos jovens que nem trabalham, nem estudam. A escola não consegue retê-los ou prepará-los para o mercado de trabalho. A falta de perspectiva dos jovens pode ser a causa da gravidez precoce: de cada 5 bebês que nascem no Brasil, 1 é filho de adolescente.
O avanço em políticas de educação deveria ser prioridade do atual governo, mas os sinais emitidos, por ora, não são bons. Temas relacionados a ideologia nas escolas só desviam daquilo que mais importa. Enquanto se discute executar o Hino Nacional nas escolas públicas, nossas crianças deixam de aprender matemática e português.
Não estão claras as prioridades do Ministério da Educação e muito menos se elas são compatíveis com os diagnósticos do setor. Ser liberal não é ser de direita. É conhecer os diagnósticos e as recomendações de políticas públicas baseadas em casos de sucesso.
Muito se avançou nesse quesito. Com base em cuidadosa análise de evidências, especialistas apontam a necessidade de elevar a carga horária e o tempo aproveitado em sala de aula; reduzir absenteísmo de alunos e professores; e valorizar a carreira docente, via salário e formação continuada, mas com cobrança de desempenho.
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Como ensina Ricardo Paes de Barros, nós sabemos educar; o que não sabemos é copiar casos de sucesso espalhados no País. Há alguns exemplos de escolas com desempenho no Pisa comparáveis a de países desenvolvidos. Um destaque recente é o do Espírito Santo, com a bem-sucedida implementação de escola em tempo integral e aumento da carga horária.
A educação não é apenas uma questão moral, mas também de crescimento econômico. Deveria interessar a todos.
Fonte: “Estadão”, 28/02/2019