“O Globo” publicou (7/6) meu artigo “Esperando Obama”, cuja conclusão era: “Os seguidores fiéis do presidente estão esperando, com ansiedade, o retorno daquele Obama dos tempos da campanha eleitoral presidencial, que arrebatou entusiasmo nos Estados Unidos e em outras partes do planeta.” Pois bem, hoje podemos afirmar que até agora esse Obama não veio.
É surpreendente constatar como ele não aproveitou os dois primeiros anos de seu mandato, quando desfrutava de maioria no Congresso, para avançar substancialmente na implementação de suas promessas de campanha. Agora, com a oposição dominando a Câmara de Deputados e o Partido Democrata com frágil maioria no Senado, tornou-se dócil refém da ala mais conservadora do Partido Republicano. Ademais, sua obsessão em obter consenso em todas as decisões é incompatível com o contexto extraordinário em que se encontram os Estados Unidos, que reclama medidas para reativar a economia.
O principal motivo de indignação entre os americanos não ultradireitistas é o fato de Obama não ter se empenhado em revogar a diminuição do imposto de renda sobre os mais ricos, implementada pelo governo Bush. Estima-se que a receita perdida com esse presentinho aos 2% mais ricos seria suficiente para amenizar os cortes, efetuados pelo Congresso, sobre os gastos em programas que beneficiam as classes de menor renda, assim como em infraestrtutura e atividades culturais.
O argumento utilizado pelos defensores da mencionada redução de imposto é o de que ela permite às camadas privilegiadas realizarem maior volume de investimentos e, assim, criar novos empregos que beneficiam os pobres. Ora, tanto a teoria quanto a realidade econômica evidenciam que essa lógica é falsa. O empresário não deixará de investir pelo fato de pagar alguns poucos pontos percentuais a mais de imposto. Seu incentivo básico a investir provém da existência de boas perspectivas de mercado.
Por outro lado, esse argumento pode ser contraposto a um outro: se não houver cortes orçamentários que diminuam a renda real dos mais pobres, eles terão condições de consumir, ampliando as perspectivas de lucro dos investidores.
Nenhum membro do Partido Democrata nega a necessidade de reduzir o déficit público. Porém, mediante o corte seletivo de gastos, associado ao resgate do montante de receita tributária perdido em consequência do agrado concedido pelos republicanos às camadas de maior renda.
Resta a derradeira esperança de que Obama exorcise as derrotas sofridas no Congresso, dispondo-se a revigorar seu comportamento e convocar os americanos a lutar pela viabilização de suas propostas reformistas progressistas, que até agora permanecem congeladas.
Se essa esperança não concretizar-se ainda este ano, confesso, com lágrimas nos olhos, preferir que o Partido Democrata escolha outro candidato para concorrer à presidência em 2012.
Fonte: O Globo, 27/09/2011
Supunha ironia expressar Lula tal “O cara”. Até o epílogo da tragicomédia Bin Laden. Obama é modelo A, teleguiado pelos impostores de ’30.