O formidável choque entre republicanos e democratas em torno dos limites da dívida pública americana é mais um sinal da profecia de Antonio Conselheiro, que tenho repetido há bastante tempo, de que o sertão ia virar mar, e o mar, virar sertão. Dos dois lados do Atlântico, balançam os alicerces da civilização ocidental por um verdadeiro atentado de políticos e financistas contra seu regime fiduciário, fabricando pirâmides de papel sem lastro nos mercados e insustentáveis promessas contra as finanças de seus países.
O maior dos erros humanos, sua maior ofensa aos deuses e também o prenúncio de um trágico declínio, os gregos designavam por húbris. Suas manifestações eram a arrogância, a pretensão, a falta de medida, os excessos. Por seus excessos, caíram os ocidentais em um buraco negro, cujo fundo ainda não é possível enxergar. E, como alertava nosso Ariano Suassuna, em volta do buraco tudo é beira: sempre que tentam escapar, escorregam e são tragados de volta.
Irlanda, Portugal, Grécia, Itália e Espanha são alguns protagonistas da sucessão de tropeços à beira de buracos orçamentários cavados por governos socialistas e social-democratas europeus. Do outro lado do Atlântico, o banco central americano, Federal Reserve, tornou- se um soprador serial de bolhas, numa outra sucessão de tropeços, à beira de um buraco negro criado por inconsequente política de crédito farto e dinheiro barato: a bolha das ações de empresas de novas tecnologias, as bolhas de crédito bancário e derivativos financeiros, a bolha imobiliária e, finalmente, a bolha dos títulos da dívida pública.
Para ampliar os limites da dívida, os republicanos exigem cortes de gastos públicos e recusam-se a apoiar novos aumentos de impostos. Obama e os democratas pedem mais recursos sob a bandeira da assistência social, mas gastaram mesmo foi com a assistência às instituições financeiras. As operações de salvamento de instituições financeiras irresponsavelmente alavancadas significam que os contribuintes americanos terão de garantir todo tipo de má aplicação de recursos, socializando perdas e transferindo riscos dos financistas para o governo. O mais provável é um acordo transitório que permita empurrar a solução estrutural para o início do próximo governo.
É comovente o espetáculo de uma Grande Sociedade Aberta agonizante em meio ao inevitável impacto financeiro de seus próprios excessos.
Fonte: O Globo, 01/08/2011
“(..)são alguns protagonistas da sucessão de tropeços à beira de buracos orçamentários cavados por governos socialistas e social-democratas europeus.”
Não creio, pois que a crise é capitalista, já faz alguns séculos que os Estados são refens do capital, e quando este entra em crise, o outro escorrega junto.. É preciso o “resgate do Estado” (Tarso Genro), e livra-lo da necessidade do capital, e assim, não ser mais fantoche de empresários que buscam lucros ao custo da sociedade, sem…
Esqueci de mencionar, que os verdadeiros Estados socialista – os latinos, não sofrem com a crise como os Estados capitalistas e imperialista – utopia minha acreditar que o imperialismo esta morrendo, mas percebece que Estados que perderam suas “colônis” – como o EUA tinha no “jardim deles” – não estão conseguindo sair da crise. E deveriam estar pior, porque aqui no Br, a ajuda pública em reduzir impostos e incentivos, leva lucros exorbitantes as matrizes no exterior -Gasto Público, lucro…