Agora é oficial: em 2015 o país registrou a maior queda do PIB (3,8%) desde 1990, quando o Plano Collor fez o produto encolher 4,3%, e completou dois anos de retração da renda por habitante.
Não fosse isso ruim o suficiente, as perspectivas são de contração semelhante em 2016, levando a renda para valores próximos aos registrados em 2008. “Oito anos em três” poderia ser o slogan do governo, caso, claro, seus marqueteiros não estivessem na cadeia…
É óbvio, exceto para os exilados da realidade, que esse desempenho não pode ser atribuído a forças externas. Países mais abertos ao comércio do que o Brasil e com exposição semelhante (ou maior) às commodities sofrem desaceleração de crescimento, não recessões bíblicas, o que sugere participação pequena de fatores internacionais no nosso desastre épico.
Este decorre de dois desenvolvimentos essencialmente domésticos: um erro crasso de política econômica, ampliado pela incapacidade do mundo político de achar formas para corrigi-lo.
O erro foi tratar a desaceleração do crescimento pós-2010 como resultante da “falta de demanda”, quando se tratava de um constrangimento da capacidade de produção, expresso em gargalos no mercado de trabalho e infraestrutura, entre outros.
Houve estímulo à demanda pela expansão do gasto público, assim como incentivos ao crédito por meio dos bancos federais, cuja contrapartida foi o aumento do endividamento do governo sem resposta do crescimento.
Por outro lado, o aumento da demanda no contexto de uma economia que enfrentava restrições de oferta teve consequências esperadas: aceleração da inflação, contida apenas pelo controle de preços públicos, e maior desequilíbrio externo, traduzido no salto do deficit em conta-corrente de US$ 75 bilhões em 2011 para US$ 105 bilhões em 2014. Já o controle de preços foi catastrófico para a Petrobras, assim como para os setores sucroalcooleiro e energético.
Esses desenvolvimentos –dívida, inflação, deficit externos– eram (e alguns ainda são) insustentáveis, principalmente no campo dos gastos públicos, agravados pelo crescimento da despesa previdenciária. A queda do investimento, que vem desde 2013, e a recessão iniciada em meados de 2014 são testemunhas e consequências da precariedade daquela política. Foi nesse contexto que ocorreu a reeleição, um dos maiores estelionatos eleitorais da história do país.
Tornou-se assim extraordinariamente difícil para a administração corrigir os rumos da política econômica: como explicar para a população que enfrentávamos uma crise séria, e não o paraíso da propaganda eleitoral? Como pedir ao Congresso, retrato dessa mesma sociedade, que adote medidas que o próprio partido do governo se recusa a apoiar?
A incapacidade do mundo político de corrigir os problemas fiscais eleva o risco de a dívida se tornar impagável, agravando ainda mais o colapso do investimento (25% abaixo do pico) e do consumo, principais responsáveis pela forte queda do produto e do emprego, que realimenta a baixa popularidade do governo e, num círculo vicioso, reduz a probabilidade de reforma.
A atual crise resulta precisamente da realimentação perversa da política para economia e vice-versa. O ano passado foi lamentável, mas preparem-se porque, sem romper esse círculo, o pior ainda está por vir.
Fonte: Folha de S.Paulo, 09/03/2016.
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