Movidos por similares doses de populismo, pouca cerimônia ante os limites constitucionais, irreverência agressiva aos opositores, jactância de seus atos, conivência com a corrupção e “otras cositas más”, um gênero peculiar de lideranças instalou-se no poder na América Latina, sob diversas aparências e em diferentes momentos.
Ao contrário das ditaduras implantadas no passado através de golpes militares, esses líderes foram democraticamente eleitos. Mas, uma vez acomodados nos respectivos palácios presidenciais, recorrem a comportamentos ilegítimos para lá permanecerem ou promover sua substituição por aliados.
Deixando de lado casos como Venezuela, Nicarágua, Bolívia e Equador, assim como o Perú da era Fujimori, este artigo aborda duas das semelhanças entre o peronismo da Argentina e o petismo no Brasil. Apesar das diferenças entre os dois fenômenos, o que há de comum entre eles serve de advertência a nós brasileiros.
O primeiro ponto em comum refere-se à atitude de lançar mão do aparelho estatal com intuito de manter o comando do país. É óbvio que, ao alcançar o poder, qualquer partido político do mundo usa os instrumentos públicos em seu benefício eleitoral. Porém, o que vem se verificando no Brasil (sobretudo no mandato Lula) e na Argentina é a exacerbação abusiva dessa prática, arranhando as fronteiras da legalidade. Basta lembrar o comportamento do presidente Lula durante as campanhas de sua reeleição e de sua sucessão: desrespeitou as regras da propaganda eleitoral e, em tom desafiante, ainda disse que não se importava em pagar as multas cabíveis.
Em ambos os países verificou-se a inchação da estrutura governamental como veículo em prol do continuísmo. Em outras palavras: compra de apoio político às custas do contribuinte. Apesar da solidez das instituições democráticas, essas duas nações encontram-se sob a égide de uma modalidade de oligopolização do poder. Criou-se assim um ente difícil de ser enfrentado, pois se fortalece mediante a excessiva infiltração de interesses partidários na administração pública.
O segundo ponto em comum entre Argentina e Brasil, e resultado do primeiro, é o esmaecimento da oposição. Assim como o PJ quase monopoliza o cenário político argentino, os partidos oposicionistas brasileiros vêm gradualmente perdendo repertório, espaço e lideranças empolgantes. Em nosso país, montou-se uma coligação situacionista rocambolesca, juntando agremiações de todas as cores ideológicas, inclusive as incolores, com o único propósito de apegar-se ao poder. Enquanto isso, os partidos ditos de oposição renunciaram a agir como tal.
No limiar da campanha sucessória, corremos o risco de as candidaturas rivais à de Dilma Rousseff serem sugadas pela força centrífuga gerada pela conjugação Estado & PT/aliados. E, pior ainda, a maior parte da sociedade brasileira, entorpecida, aceita essa realidade.
Marcello, voce acertou na mosca!! E realmente triste o que vem acontecendo, e falta de uma reaçao massiva é surprendente!!!