Enquanto os instrumentos da Imperatriz Leopoldinense estão guardados, a quadra da escola de samba em Ramos quebra o galho da escola vizinha, a Professor Carneiro Ribeiro, da rede municipal de ensino do Rio, cidade sede das Olimpíadas de 2016. É no espaço dos bambas que os alunos do colégio público têm aulas de educação física. A unidade é uma das 376 da cidade que não possuem quadra esportiva para a disciplina. Na rede, uma em cada três escolas, das 1.008 municipais, não contam com esse espaço.
Essa é a realidade do pequeno Rodrigo Brás, de 9 anos, que tem na ponta da língua o que quer ser quando crescer:
— Jogador de futebol do Barcelona — dispara.
Mas treinar para chegar lá é difícil. Rodrigo mora no Complexo do Alemão e, segundo a mãe, não tem um espaço bom para jogar por lá. Acaba batendo bola entre as vielas da favela mesmo — para o desespero dos vizinhos. Na Escola Municipal Professor Carneiro Ribeiro, onde ele estuda, a situação não é nada melhor: o improviso também é regra.
— A gente tem aula no pátio ou na quadra da escola de samba — explica, tímido.
Esse não é o único colégio de Ramos que utiliza a quadra da Imperatriz. As escolas municipais Walt Disney e Padre Manuel de Nóbrega também não têm quadras esportivas e compartilham o espaço.
— O caminho da escola até aqui atrapalha um pouco. As crianças ficam muito agitadas e às vezes fica difícil controlar — contou uma professora enquanto levava as crianças pelo percurso de um quarteirão do colégio até a Imperatriz.
Um relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM) de 2007 mostra que esse não é um problema novo. Naquele ano, o número de escolas sem quadra era o mesmo: 376. Nos anos seguintes, o órgão passou a realizar relatórios anuais. No último, de 2013, apontou que, entre as escolas com quadras, apenas 41,5% tinham os espaços em “condições boas”. Nas outras, estavam razoáveis, precários ou em obras.
A Secretaria municipal de Educação alega que 172 das escolas sem quadra não possuem espaço suficiente para a construção. “Os alunos destas unidades e das demais que não têm quadra realizam atividades físicas ou desportivas em vilas olímpicas e clubes e associações recreativas e desportivas, por meio de convênio”, informou a nota.
A pasta ainda informou que “conta com inúmeras ações voltadas para os Jogos Olímpicos e conteúdo esportivo com os alunos”. A principal é a criação dos Ginásios Experimentais Olímpicos, em Pedra de Guaratiba, Santa Teresa e no Caju. Juntos, 1.207 alunos são beneficiados pelas três unidades em funcionamento.
Nesses espaços, são oferecidas modalidades esportivas como atletismo, tênis de mesa, vôlei, handebol, judô, luta olímpica, futebol, badmington, aliadas ao currículo do 6º ao 9º ano.
Fonte: Extra.
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