Aqui e ali, se diz que a Operação Lava Jato corre o risco de ser revertida por ações dos atingidos pelas investigações, inclusive de políticos influentes que gostariam de ser excluídos do alcance das ações da Polícia Federal e do Ministério Público.
Procuradores da Força Tarefa da operação em Curitiba costumam usar as redes sociais e a imprensa para alardear riscos contra a Lava Jato. É bom que eles estejam alertas, mas tudo indica que exageram. Suas reações podem fazer parte do impulso que muitos exibem de aparecer com frequência no noticiário e de fomentar prestígio.
A Operação Lava Jato está ancorada em fortes avanços institucionais dos últimos tempos, entre os quais o poder de que foi investido o Ministério Público pela Constituição de 1988. O país se beneficiou, adicionalmente, de tratados internacionais aos quais aderiu, destinados a combater, além da corrupção, o crescimento do tráfico de drogas e o terrorismo, que se valem da lavagem de dinheiro para financiar suas atividades.
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Ao participar desses acordos, o país se comprometeu a criar instituições para cumprir os respectivos compromissos. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), cuja participação foi decisiva para o início da Lava Jato, é um bom exemplo. Outros são a lei da delação premiada e as normas de acesso a informações do setor público.
Além disso, ocorreram mudanças de crenças nas últimas décadas. A sociedade abandonou a ideia de que a inflação teria um papel no desenvolvimento, o que eliminou um meio para disfarçar ações de corrupção. Mais recentemente, nos tornamos intolerantes à corrupção. Acabou a história do corrupto bom, isto é, o que “rouba mais faz”.
Segundo pesquisas do Instituto DataFolha, a corrupção tem sido a preocupação número um dos brasileiros, deixando a saúde em segundo lugar. O apoio social ao combate à corrupção tem origem em grande parte nas novas crenças. Assim, se eventual medida contra a Lava Jato passar no Congresso e não sofrer o veto presidencial, veremos uma onda de protestos que será amplificada pelas redes sociais e pela ação da imprensa. O povo irá às ruas.
A Operação Lava Jato é sucesso não apenas no Brasil. Tem atraído a atenção internacional. A Folha de S. Paulo de hoje noticia que o americano George Ren McEachem, até recentemente membro do Esquadrão de Corrupção Internacional do FBI (a polícia federal dos EUA) elogiou a Lava Jato e considerou que a operação é modelo a ser seguido por outros países.
A Lava Jato tem sólidas raízes nas instituições e na sociedade. Seu sucesso e continuidade não estão sob qualquer risco.
Fonte: “Veja’, 08/02/2018