Apesar de todos os fatos abjetos da cena política nacional, é absolutamente alarmante o estado apático da oposição. Além de uma inexplicável letargia, as forças oposicionistas não passam de uma massa disforme e sem coesão institucional. A falta de endógena união partidária apenas prejudica o seguro e firme desempenho da função política da oposição. Aliás, se não existe um norte, é porque o partido carece de uma liderança efetiva. E o líder, mais do que um bom doutrinador, deve ser um prático que faz da ação pública altiva um elo de respeito, admiração e coragem entre os seus liderados.
Incompreensivelmente, após toda a intensa luta pela redemocratização, a necessária dialética democrática cede espaço para um silêncio estridente. A política atual parece perder o poder transformador da palavra; vivemos um tempo de discursos sem falas e de frases sem sujeito. Sobre o ponto, lembro que, em tumultuado contexto histórico, o nobre deputado Raul Pilla subiu à tribuna parlamentar e fez ecoar sua voz: “Não falo por falar, falo por dever; falo para que não digam que não ouviram, porque não houve quem falasse; falo, sobretudo, para ficar em paz com minha consciência, à qual sempre obedeci e a que hoje, mais do que nunca, devo obedecer. A insânia parece dirigir a vida pública brasileira”.
Isso foi dito em 1957, muito antes da insanidade do famigerado mensalão. Mesmo sem saber o que passaria atualmente em seus límpidos e puros pensamentos, não hesito em dizer que o doutor Pilla jamais abdicaria do poder da palavra. Palavras que, se não curam, mantêm acesa a chama da honra, da consciência democrática e da indignação popular. Ora, se a Oposição almeja voltar a receber o respeito e a admiração da população brasileira, antes de esperar por um milagre, deverá reinaugurar um tempo de crítica consciente contra os descaminhos dos atuais inquilinos do poder.
E, ao assim fazer, poderemos lembrar da ação política superior de Gaspar Silveira Martins, dando ao governo o apoio de sua decidida oposição. Ou será que hoje em dia nossos líderes apenas seguem insossas receitas de marketing do politicamente correto, fechando os olhos para o aspecto anímico e sanguíneo da genuína ação política responsável e voltada, sem pessoalidade, ao interesse público? Será que as pessoas preferem seguir uma múmia ou alguém que desperte admiração? Será, aliás, que a virtude ação foi transformada em covardia política?
Enquanto as respostas não chegam, é importante ter lado na vida; quem fica em cima do muro não cai, mas também não ganha. É certo que os concordinos sempre terão lugar no governo; todavia, jamais terão o papel de protagonistas, pois a liderança requer opções claras. Não importa que a derrota aconteça em uma, 10 ou 20 eleições. O fundamental é que, quando a vitória chegar, esteja certo que o povo escolheu uma nova proposta política e um outro estilo de governar. Não mais podemos nos contentar com tacanhos projetos de poder em favor de personalismos que se acham acima do bem e do mal; o Brasil está a esperar um autêntico projeto de nação que construa, sem revanchismo ou ranços ideológicos, um governo para o bem de todos os brasileiros.
Naturalmente, minhas reflexões não têm o condão de mudar a ordem dos acontecimentos, mas a ação política coordenada e bem intencionada tem uma inerente força transformadora. Tanto é verdade que o MDB, com o auxílio da liderança de Brossard, Ulysses e Tancredo, imprimiu cores democráticas no céu cinzento do autoritarismo reinante. A luta democrática continua e jamais irá perecer. E só iremos construir um país melhor quando a Oposição (com letra maiúscula) voltar a falar e dizer, com coragem, aquilo que a nação precisa escutar.
Em regimes de liberdade política, não pode haver Oposição calada. A democracia precisa ter voz, pois a arte da política não é um cinema mudo. Dessa forma, é urgente e necessário o resgate do debate público de envergadura que faça da saudável dialética democrática um instrumento de discussão eficaz sobre os rumos políticos do país. Falando nisso, por onde anda e o quer a Oposição brasileira?
Fonte: Jornal do Brasil
“Vivemos um tempo de discursos sem falas e de frases sem sujeito.”
E, sobretudo palavras desprovidas de ações objetivas, pois que se acompanham sem resultados e sem eficácias. Seria necessária uma lei total e ineludível, proibindo todas e quaisquer publicidades mentirosas e enganosas: como são quaisquer promessas e palavras sem ação. Que sirva para desmantelar qualquer “inquilino do poder”.
“Em regime de liberdade política”
O voto não deveria ser obrigatório, e sendo, quando os votos nulos e brancos forem de maiores números do que os dos candidatos individualmente apresentados, fato que denota a total insatisfação da população, e sendo assim, para estes não deveria haver nenhuma possibilidade de aceder ao poder, à população votou que eles não valem o posto almejado.