A ressurreição do capitalismo de Estado em sua versão contemporânea é atribuída a alguns agentes bastante conhecidos: as companhias nacionais de petróleo, as demais empresas estatais, os fundos soberanos e os “campeões privados” patrocinados por seus governos.
Os primeiros atores, as companhias nacionais de petróleo, são muito populares. Os sucessivos choques de preços e a organização de um cartel mundial de produtores forneceram ambiente propício aos argumentos de “segurança nacional”, transformando o petróleo em um setor de dimensão geopolítica.
Hoje, três quartos das reservas energéticas globais são controladas por governos nacionais.
A segunda grande alavanca do moderno capitalismo de Estado são as demais empresas estatais, particularmente as do setor financeiro. É inegável a desastrosa contribuição de empresas semipúblicas, como a Fannie Mae e a Freddie Mac, para a formação e o estouro da grande bolha imobiliária americana. Por outro lado, no Brasil, foi claramente positiva a contribuição das instituições financeiras públicas para reativar a expansão do crédito e escaparmos do buraco negro da crise mundial.
Um fenômeno mais recente são os fundos soberanos.
As autoridades fiscais atuam em cooperação com os bancos centrais. Destinam parte do superávit fiscal para a compra de reservas internacionais, auxiliando o banco central no esforço de sustentar artificialmente taxas de câmbio desvalorizadas para estimular as exportações e a substituição de importações.
O acúmulo permanente de reservas internacionais permite a montagem de um fundo soberano de aplicações financeiras no exterior. Esses fundos já representam 12,5% dos investimentos globais.
Outro agente com importante atuação são os “campeões privados”, escolhidos como âncoras de consolidações setoriais e patrocinados pelos governos em cada país. Com o estímulo de crédito fácil a taxas subsidiadas, contratos favoráveis e subsídios fiscais, grandes companhias são escolhidas para garantir um papel dominante na economia doméstica e competir com vantagem contra os rivais estrangeiros. São companhias gigantescas operadas por um pequeno círculo de homens de negócio bem conectados com o governo.
Entretanto, os mais importantes agentes do ressurgimento do capitalismo de Estado permanecem surpreendentemente insuspeitos. A recuperação das bolsas festeja antecipadamente a bem-sucedida atuação dos bancos centrais no esforço de reativar a economia mundial. Mas o fato relevante, percebido apenas por um olhar mais sofisticado, foi a contribuição decisiva dos mesmos bancos centrais, ao longo de anos, para construir esta crise.
A incessante manipulação dos juros pelos americanos e a permanente falsificação do câmbio pelos chineses são as novas dimensões extraordinariamente perigosas e pouco reconhecidas da ressurreição do capitalismo de Estado.
(O Globo, 24/08/2009)
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