Publiquei ontem (04/03/2010) um texto bastante longo sobre a distorção miserável a que uma repórter da Folha, Laura Capriglione, submeteu a fala do senador Demóstenes Torres na audiência pública conduzida pelo STF sobre as cotas raciais da Universidade de Brasília. Atenção! Na UnB, o cotismo tem como critério exclusivo a cor da pele. Criou-se uma verdadeira comissão racialista para decidir se o estudante é negro ou não. A Alemanha dos anos 30 quase fica com inveja. É o fim da picada!
A audiência já se realiza sem isonomia. Dos 40 convidados, 28 são favoráveis ao sistema; apenas 12 são contrários. É uma atula de isonomia dada pelo professor Ricardo Lewandowski, ministro do STF… Parece piada, mas é assim. A fala de Demóstenes foi estupidamente retirada do contexto, e questões pertinentes por ele levantadas foram transformadas em manifestação de racismo ou de estupidez. Recomendo que leiam o texto.
Informações que dizem respeito à história do Brasil e da África estão sendo tratadas por alguns oportunistas como manifestações do “negacionismo”. Recorrem a tal expressão para tentar estabelecer um paralelo absurdo, estúpido, descabido, entre os que se opõem ao sistema de cotas exclusivamente raciais e os neonazismo que nega o holocausto judeu. Combater as cotas, assim, seria sinônimo de negar a escravidão.
É uma barbaridade! Coisa de vigaristas! Estamos num franco processo de anatematizar a divergência, a discordância, apelando às piores baixezas. E o mais escandaloso é que isso está sendo feito em nome da democracia. Ora, se dona Laura Capriglione e seu ex-namorado dispõem de bibliografia que negue a existência da escravidão em terras da África, que ela seja exposta, lançada ao debate. Se é mentira que, no que respeita à miscigenação, a colonização no Brasil teve traço particulares, que não se repetiram na América espanhola, que essa gente diga com que livros está lidando, que exponha as suas referências.
Mas não se faz nem uma coisa nem outra porque é impossível fazê-las. Organizam-se para vencer o debate na base da gritaria, da manipulação a mais descarada, da desqualificação. Reconhecer que existiu a escravidão africana — e que ela precede o tráfico negreiro para a Europa e para a América — não torna os negros co-responsáveis por nada. Trata-se de um dado da história da humanidade e da história, então, se quiserem, dos negros.
Ocorre que a política de cotas — para poder atropelar a ordem legal, para poder aviltar o princípio da igualdade previsto na Constituição, para poder incentivar o confronto de supostas raças distintas — precisa estar assentada numa idéia de culpa; ela precisa de um mito fundador: os brancos que há hoje seriam descendentes dos brancos subjugadores, e os negros que há hoje seriam os descendentes dos negros subjugados. Assim, os primeiros compensam os segundos. Ainda que os brancos pobres — que vêm a ser a esmagadora maioria — não sejam, de nenhum modo, herdeiros do mandonismo dos senhores de engenho. O fato de que negros foram escravizados antes por negros — e, portanto, uma idéia de reparação baseada “naqueles séculos de opressão” teria de encontrar seus alvos também na “Mãe África” — é insuportável porque desfaz aquele mito fundador. Então se acusa a verdade de “negacionista”; então se acusa quem lida com os fatos de ser, sabe-se lá, “reacionário”…
O patrulhamento politicamente correto começou na linguagem. Chegava até a ter seu lado engraçado. Depois, passou à condição de polícia do pensamento mesmo, tentando banir do ambiente os que ousavam discordar dos consensos. Agora, vive-se a fase da anatematização, da criminalização da divergência. Aquela que colheu o senador Demóstenes Torres.
Estou começando a perder a paciência com, se me permitem a expressão, os burgueses do onguismo: “burgueses das cotas”, “burgueses do aquecimento global”, “burgueses do macaco-prego”, “burgueses da floresta”… Essas causas se transformaram em meio de vida de auto-intitulados “representantes do povo” e até de consultores desempregados. Banidos do mundo dos negócios ou coisa que o valha, resolveram alugar a sua pena às nobres causas da humanidade, financiados pelo militantismo global, é claro — alguém precisa financiar a boa vida que se censura nos outros. São beneméritos do próprio bolso disfarçados de amantes “duzoprimido“. Como decidiram enveredar pelo caminho da destruição do outro, acho que está chegando a hora de desmascará-los.
No debate de que participei na segunda, promovido pelo Instituto Millenium, cobrei a obrigação que têm as empresas de comunicação de fazer a defesa dos pilares da democracia representativa e do estado de direito, que são, de fato, os que sustentam a sua existência e a liberdade de expressão. O ambiente está cada vez mais contaminado — e a palavra é essa! — por aqueles que odeiam os princípios de uma sociedade livre. Começamos a viver sob a vigilância e o gerenciamento de grupos de pressão que pretendem tutelar a Constituição.
Conversando ontem com Monica Waldvogel, ela lançou uma questão fundamental sobre um assunto que muitos achariam bobo, prosaico, mas que é importantíossimo e sobre o qual já escrevi aqui: quem, afinal, estabeleceu os critérios para determinar a suposta agressão às mulheres naquela propaganda da cerveja Devassa, com Paris Hilton? Pois é… Foi alguma lei? Foi a Constituição? Foi algum elemento objetivo? Não! Foi a Secretaria Nacional dos Direitos da Mulher que se sentiu no direito de tutelar não a condição feminina, mas o discernimento dos telespectadores. E o Conar se deixou patrulhar e aplicou, lamento dizer, uma forma de censura.
Chamo a atenção, meus caros, para esses mecanismos. Vejam o Programa Nacional-Socialista dos Direitos Humanos. Está mantido. Lá se prevê que a violação aos direitos humanos pode custar a cassação de uma emissora de TV. Mas quem decidiria? Ora, um comitê ou comissariado constituído com esse fim, e ele teria mais poderes para dizer o que pode e o que não pode do que a própria Constituição. Em breve, “devassa” será a liberdade.
É isto! Querem uma democracia sob tutela, em que até o debate esteja interditado. Tudo será decidido e definido nos tais grupos organizados de pressão. E ai daquele que divergir! Será transformado numa não-pessoa, num agente do atraso. E a imprensa, infelizmente, é hoje refém de grupos que, na prática, odeiam a liberdade.
PS: Espero que o Millenium tenha gravado o seminário ou filmado. Tentarei publicar aqui as minhas intervenções. Em primeiro lugar, porque as considero pertinentes; em segundo lugar, porque o livro das coisas que não escrevi e das opiniões que não dei já é maior do que a Suma Teológica.
O pobre Rei do Esgoto sabe que só numa democracia muito ampla ele poderia existir. Vivesse na sua pátria espiritual, os EUA, e já teria gasto bilhões em indenizações por suas diárias calúnias, difamações e outros crimes que não são “de opinião”, são do CP mesmo.
Para sorte dele, aqui a imprensa é totalmente livre (até para elementos como ele) e eu posso chamá-lo de palhaço a soldo. Se quiser, que me processe para eu provar. E viva a Democracia!