A aviação comercial brasileira – isso é visível a olho nu – enfrenta problemas que, no limite mais extremo, podem provocar transformações tão profundas quanto as que ocorreram a partir de 1990.
Naquele momento, como se sabe, a Varig liderava o mercado com folga, seguida pela Vasp e Transbrasil – enquanto uma pequena companhia regional, a TAM, nem bem havia entrado na era do jato e lutava contra as grandes utilizando uma arma poderosa: os serviços de qualidade.
Hoje, as três grandes daquela época deixaram de existir. A TAM cresceu, tornou-se líder do mercado e abdicou da arma que lhe conferiu prestígio. Logo atrás dela, a Gol – equivalente em tamanho e na baixa qualidade do tratamento dispensado ao passageiro.
Criada há pouco mais de 10 anos, a Gol já nasceu grande e encontrou a seus pés um mercado escancarado pela falência das velhas concorrentes. Durante um bom tempo, ela e a TAM reinaram sozinhas nos aeroportos brasileiros – e tudo estaria muito bem para elas se o cenário não tivesse mudado e elas não deparassem com exigências de crescimento para as quais não estavam preparadas.
Diga-se em favor das companhias de aviação que, por mais que tenham errado na estratégia (e erraram), elas não foram as únicas nem as principais responsáveis pelos problemas com os quais os passageiros brasileiros passaram a conviver: apagões aéreos, terminais lotados e desconfortáveis, atrasos frequentes, cancelamentos de voos e filas intermináveis nos guichês de check-in.
Além disso, foram obrigadas a assumir incumbências que, em qualquer lugar do mundo, ficam a cargo da autoridade aeroportuária. Um exemplo: o Brasil é o único país entre os relevantes em que as companhias de aviação são responsáveis pela identificação dos passageiros que embarcam nos voos domésticos.
Isso porque a Infraero, que tinha essa responsabilidade, simplesmente a empurrou para as operadoras. Some-se a problemas como esses a volatilidade do câmbio, o preço do petróleo e os custos do dinheiro no Brasil.
O resultado dessa mistura mais explosiva do que querosene é um cenário muito mais difícil do que é capaz de imaginar um leigo que analisa a situação pelos preços das passagens e pela lotação dos aviões.
Esse é o ambiente que Paulo Kakinoff, um dos nomes mais talentosos da nova geração de executivos brasileiros, terá que enfrentar. Anteontem, ele oficializou sua saída da presidência da Audi (a montadora de luxo da Volkswagen) para anunciar que assumirá o comando executivo da Gol. Credenciais para a missão não lhe faltam.
Com 38 anos de idade, 17 dos quais na Volkswagen, Kakinoff teve uma carreira vertiginosa e chegou muito cedo a postos de comando no Brasil e na Alemanha. Seu nome era dado como certo para assumir a presidência da Volks no Brasil.
Mas, como ele mesmo faz questão de dizer, trocou tudo isso pelo desafio de presidir uma companhia aérea endividada num mercado em transformação. A Gol ganha com a chegada do novo presidente – que terá uma missão espinhosa: a de rejuvenescer uma empresa que beira a senilidade com pouco mais de uma década de vida.
Fonte: Brasil Econômico, 20/06/2012
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