O Maranhão é o estado mais miserável do país, com 12,9% das pessoas vivendo com apenas 70 reais por mês. E Roseana vem dizer que a onda de violência é culpa da riqueza do estado
Por Claudio Schamis
A pergunta que retumba na minha cabeça é: de quem é o Maranhão?
Sempre achei que o Estado era do povo. Assim como o Congresso. Mas os verdadeiros donos fazem deles o que bem querem. E nós ficamos teimosos nesse papel de deixar qualquer um entrar na nossa casa.
Temos que entender que o Estado e o Congresso são também a nossa casa. Como se fosse uma extensão. E deveríamos zelar por eles com critérios criteriosos de quem pode e quem não pode entrar. Mas como deixaram a porta aberta, ontem e hoje entra quem quiser. É a mesma história do porquê o cachorro entrou na igreja. Entrou porque a porta estava aberta. Só que nesse anexo da nossa casa não entra cachorro. Entram ratos.
É incrível como o povo maranhense ainda não entrou com uma ação pedindo divisão de lucros da parte que, segundo a governadora Roseane Sarney, é rica. E que usou como justificativa para a onda de violência que atingiu o estado de Sarney. Por que não emancipam logo e redigem a escritura. É só o que falta. Assumam logo isso.
Resta saber se os Sarney vão levar o pacote todo ou ficar só com a banda sadia, a parte rica.
O Maranhão é o estado que tem o maior percentual de pessoas com renda mensal até R$ 70,00. Isso mesmo, setenta reais. Em outras palavras é o estado mais miserável do país e o único que mantem esse índice em dois dígitos: 12,9%. E é claro, vão aparecer os “advogados” de plantão para lembrar que em 2002 esse índice era de 18,97%. Que caiu muito graças ao governo Lula e Dilma. Sim caiu, mas está bem longe da meta cuspida por Dilma de erradicar a pobreza. Há dez anos era o Piauí que mantinha a liderança desse ranking, com 22,58%, seguido por Alagoas com 19,04% da família Collor. Alagoas dez anos depois continua na segunda posição, só que com apenas 7,87%.
Sim, uma melhora aconteceu, mas está longe do que queremos. Está longe de um país que sediará uma Copa do Mundo. Que receberá os Jogos Olímpicos.
Roseane Sarney talvez sofra do mesmo mal que muito político: miopia seletiva. A miopia seletiva é uma doença que foi detectada na classe política do país e que faz o que é parecer que não é. Por exemplo: próximo do Palácio dos Leões, sede do governo Sarney, existe uma vizinhança pobre, onde creches são improvisadas sobre palafitas, mas vão dizer, mesmo assim, é uma creche. Legal né? Quero ver o filho de um deputado estudar num muquifo como esse.
Além de miséria, existe analfabetismo o que não seria de se estranhar, uma vez que a dinastia Sarney já dura 48 anos. Só para constar, em 2012 o Maranhão tinha a segunda maior taxa de analfabetismo de jovens e adultos, com 20,8% da população de 15 anos ou mais sem saber ler e escrever. Alagoas estava ainda pior com uma taxa de 21.08%. E depois não vem querer me vender que educação está diretamente ligada a quem fica no poder. Maranhão = Sarney. Alagoas = Collor. Está quase desenhado, isso.
O Maranhão tem também o segundo mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do país, à frente somente de Alagoas, que é o lanterna. Ou seja…
E a governadora vem falar que o Maranhão é rico. Sim é rico na banda onde ela vive e de onde saem R$ 274 milhões de reais do governo para empresas de aliados. É sempre o primo do irmão do tio do neto de fulano que tem uma construtora de terraplenagem, ou do cunhado da irmã do sobrinho de cicrano que é dono de uma empresa de engenharia, ou a uma loja de veículos que é do primo do marido da própria governadora e por aí vai. Inclusive o ex-sócio do marido de Roseana é quem faz a segurança do presídio de Pedrinhas. E é claro que o pai, o senador José Sarney que é sócio em um Shopping já recebeu um agrado de R$ 1,6 milhão. Todo mundo que recebeu parte dessa grana tem algum traço de DNA com Roseana.
Alguns advogados protocolaram pedido de impeachment contra Roseana. Se isso vai acontecer, são outros quinhentos. Até porque o Sarney pai é uma pessoa “incomum” como definiu seu ex-desafeto Lula que, no passado, disse horrores sobre sua pessoa. E se rolar uma grana então é que Roseana não sai mesmo. Ou alguém duvida?
Com relação à onda de violência a governadora culpou a riqueza do estado. Pelo que se leu até agora estamos falando de dois estados completamente diferentes. Díspares. E é justamente nesse mesmo presidio citado no texto (Pedrinhas) que o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana viu o mais alto grau de violações dos direitos humanos no contexto carcerário brasileiro. Não tem como aceitarmos mortes dentro de presídios, seja por qual motivo for. Enquanto não tivermos presídios humanos, onde os presos possam trabalhar e se ressocializar através de ações para que isso aconteça, vamos continuar a produzir mais marginais que acabam saindo piores de quando entraram.
Mas os governos acham que basta jogar numa cela que seu papel acaba ali. Ledo engano. Esse é só o primeiro passo de muitos que deveriam ser dados. Não faltam espaços para se construir prisões de segurança, com humanidade e de maneira que os presos possam até produzir sua própria alimentação. O que falta é vergonha na cara e um olhar mais visionário. Pena que o olhar dos nossos governantes seja visionário somente quando envolve exposição para os outros produzindo uma Copa do Mundo que a presidente prometeu ser a “Copa das Copas”, quando poderiam estar produzindo escolas, hospitais e até mais presídios. Esses tipos de construções não dá ibope, não dá mídia internacional não produz turismo.
Pena que os governantes continuem pensando com antolhos.
Salve as baleias. Não jogue lixo no chão. Não fume em ambiente fechado.
Fonte: Opinião & Notícia
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