Uma comissão de ilustres senadores, escolhidos a dedo por Sarney, vai propor uma reforma do nosso sistema político e eleitoral. Em busca de subsídios e novidades, não fui pesquisar nas grandes democracias tradicionais, mas em países com novos sistemas. Às vezes onde menos se espera é que não se encontra nada mesmo, ensinava o barão de Itararé. Mas pelo menos a gente se diverte.
Pode parecer tão exótico como estudar a sexualidade dos peixes, ou cornologia em cabeça de cavalo, mas fui pesquisar o sistema eleitoral cubano, para saber como o povo escolhe os seus representantes numa república popular revolucionária.
É um modelo bem original: qualquer cidadão pode se lançar candidato em seu distrito – só precisa ser filiado ao Partido Comunista Cubano e apoiado pelo Comitê de Defesa da Revolução do bairro. Ou por algum figurão do Partido.
Em nome da igualdade de oportunidades, é proibida qualquer forma de propaganda, basta o currículo do candidato com uma foto 3×4 nos jornais e nas zonas eleitorais. Assim evitam-se a corrupção e a promiscuidade de candidatos com financiadores de campanhas.
Mesmo porque em Cuba não há empreiteiras, nem bancos, nem campanhas eleitorais. Nem comícios, passeatas ou carreatas, que são inviáveis pela escassez de veículos e combustível, mas também proibidas. Assim como reuniões com eleitores em qualquer lugar. A internet, que na ilha ainda é a lenha, só pode ser acessada por funcionários do governo. São as eleições mais baratas do planeta.
Assim são eleitos livremente os 601 deputados da Assembleia Nacional, órgão máximo do poder popular, onde estão representados os governistas, os supergovernistas e os ultragovernistas. As propostas da direção do Partido são aprovadas por aclamação. Pátria o muerte!
Não poderia mesmo dar certo, né ?
Enquanto isso, no Brasil, os velhos caciques partidários querem, além da boca livre eleitoral bancada pelo contribuinte, que seja adotado o voto em lista. Porque, assim, são eles que vão escolher, com os métodos e as práticas de sempre, os que vão nas janelinhas do bonde do partido, os eleitos dos eleitos. Melhor, só em Cuba.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 25/02/2011
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