Como eu posso usar minha experiência para resolver os problemas de outras pessoas?”. É essa questão que move o potiguar Pedro Felipe Alves Moura, 30 anos. Formado em economia e relações internacionais pela Universidade da Califórnia (EUA), Moura migrou para o estado californiano com a família há 15 anos em busca de melhores oportunidades, que vieram em forma de conquistas acadêmicas e profissionais. Foi também no território norte-americano que ele adquiriu uma experiência que o incentivou a buscar soluções financeiras para classes sociais marginalizadas.
Após se aprofundar no desenvolvimento econômico de mercados emergentes e conhecer propostas de serviços financeiros para populações sem acesso ao sistema tradicional, Moura fez disso sua missão pessoal. Desde 2015, ele se dedica ao seu MBA na Universidade de Berkeley, em que estuda maneiras de criar soluções financeiras para populações sem acesso, e trabalha na empresa Oportun, alinhada com os seus princípios.
No mês passado, Moura esteve no Brasil como colaborador da segunda edição brasileira do evento Lean Startup Program, programa criado pela Universidade de Berkeley e que, neste ano, foi realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Durante a ocasião, professores da universidade norte-americana e da instituição carioca, empreendedores, investidores e alunos se reuniram para discutir como fortalecer os polos de empreendedorismo e estimular o surgimento de startups no Brasil. Confira a seguir a entrevista que Moura deu à PEGN.
Como o Lean Startup Program pode ajudar os empreendedores brasileiros?
Grande parte dos professores de Berkeley que vieram para o evento já foram empreendedores na região do Vale do Silício, na Califórnia. Por isso, eles já passaram pelo processo de levar inovação da universidade para o mercado. Aqui, eles puderam compartilhar esse conhecimento com os empreendedores brasileiros, oferecendo uma espécie de mentoria, seja para os estudantes, seja para os professores. Ao mostrar a metodologia empregada no Vale, eles mostraram aos brasileiros um atalho para validar suas ideias de negócios.
De que maneira funciona essa metodologia?
O método consiste, basicamente, em ir a campo. Não adianta ter uma ideia e construir um produto sem saber qual a real necessidade do seu potencial cliente ou parceiro. Os professores de Berkely ensinam que é o ideal é sair pelas ruas e ouvir o que as pessoas têm a dizer. Se você estiver instalado em um coworking, converse com os colegas sobre a sua ideia. Muitos empreendedores saem da universidade sem entender isso. Não sabem como tirar a tecnologia da sala de aula e aplicá-la no mercado, resolver um problema e ganhar dinheiro com isso.
Você tem uma forte ligação com o universo das fintechs. Como vê o crescimento desse tipo de startup no Brasil?
O sistema financeiro existente no Brasil (e também nos EUA) foi feito pela classe média alta para a classe média. Esse modelo faz com que parte da população não tenha acesso aos bancos. O resultado é que as classes menos abastadas acabam criando suas próprias ferramentas financeiras, como empréstimos entre amigos ou familiares, por exemplo. Como elas são “invisíveis” para o sistema financeiro tradicional, surge um espaço para quem souber criar soluções que aliem a tecnologia aos hábitos que essas pessoas já têm. No Brasil e na África, já existem modelos, para atender essa demanda.
Que dicas você daria para quem quer abrir uma startup hoje?
Para inspirar aqueles que querem começar, sempre digo: “Fazer parte de uma startup é buscar oportunidades com recursos que você não tem”, sejam eles investimentos financeiros ou mentores.
É essencial se colocar no ambiente em que você quer atuar e analisar se há outras pessoas querendo resolver o mesmo problema que você. Se a resposta for sim, tente fazer parte desse grupo. Procure pessoas que te tragam inspiração, e também aquelas que já trilharam o caminho que você quer trilhar. Dessa maneira, você pode aprender com os erros dos outros, e não com os seus.
Outra dica é não querer abraçar o mundo com as duas mãos. Você não precisa ter uma solução escalável desde o início. Primeiro resolva o problema de uma pessoa, depois de cinco, depois de dez. Aos poucos, seu projeto dará certo.
Reflita e pense qual é a sua missão pessoal: o que te move, com o que você quer trabalhar e quais problemas quer resolver. Se você for apaixonado pelo ato de empreender, mesmo que não tenha sucesso no seu projeto, vai levar esse aprendizado para o seu próximo negócio.
Fonte: “Pequenas empresas e grandes negócios”, 04/08/2017.
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