Com a perspectiva de rebaixamento da nota de crédito dos EUA pela agência de risco Moody’s, com sede americana, ficou oficializado o fim da aplicação do conceito de “livre de risco” aos seus títulos do Tesouro.
Por motivo óbvio, as agências de rating dos EUA tomam agora, tardiamente, a decisão de rever a nota AAA dos EUA, concedida apenas a papéis tidos como de segurança máxima.
O anúncio da Moody’s vem atrelado a um fato circunstancial, que é o impasse do Congresso americano quanto a elevar o nível do endividamento federal, situado hoje na faixa de um PIB anual, ou seja, de US$ trilhões. Os leitores desta coluna já vêm acompanhando isso comigo há algum tempo.
O impasse, sabemos, é porque a maioria dos congressistas de lá não quer votar por mais dívida, elevando seu limite, sem mostrar claramente aos eleitores deles, enfurecidos com a balbúrdia fiscal, que também votaram medidas duras e decisivas para conter o monstruoso déficit orçamentário de mais de 10% do PIB, algo que jamais se pensou pudesse ocorrer em terras do Tio Sam.
O presidente Obama está contra a parede. Votar medidas duras é sacramentar um final melancólico para seu último ano de mandato, dando adeus a uma reeleição, a menos que os republicanos escolham um candidato horroroso para concorrer em 2012. A sorte de Obama é que Ben Bernanke, o democrata “secreto” que chefia hoje o Fed americano, já tem pronto, na manga do colete, seu antídoto antirecessivo, uma nova rodada de emissão de centenas de bilhões de dólares, que o mercado começou a chamar de QE 3, o Quantitative Easing 3, eufemismo para a programada destruição da confiança no dólar americano.
Estarão essas “autoridades” ficando loucas? Um indicador dessa confiança na loucura é a cotação do ouro, que ruma na direção dos US$ 2 mil / onça, quando o custo de produção não passa de US$ 400 – US$ 500. Mas, se assim é, por que não disparou ainda o juro longo dos Treasuries?
A resposta está na própria pergunta: ainda não, ou seja, enquanto o Fed estiver determinado a ser o principal comprador de seus próprios papéis. Depois disso, a tormenta é praticamente certa. Mas, se for após a reeleição de Obama, os políticos de plantão não se importarão.
Se esta lhe parece uma conversa de doidos, é sobre isso mesmo que versa uma análise de rating de país. Não é só sobre avaliar indicadores de dívida mas, sobretudo, fala de capacidade de governar e vontade de pagar as contas oficiais.
Não é de hoje que os EUA escorregaram da nota máxima, AAA. Em 2009, quando a brasileira SR Rating atribuiu a eles uma nota AA, dois degraus abaixo da máxima, procurava, com grande antecedência a uma nova crise, já previsível no horizonte, refletir o impasse político vivido pelo povo americano, apesar do imenso potencial e dos extraordinários valores ainda cultivados naquele grande país. Ser grande nem sempre quer dizer ser, ou estar, livre de risco, especialmente financeiro.
O Brasil é também uma grande nação, mas está distante de se tornar um país A ou duplo-A nessa escala de segurança financeira. Tampouco os EUA são um país triplo-A. Já deixaram de sê-lo há tempos. A questão virou anúncio de obituário. Piores serão as consequências, que dormem na porta dos mercados distraídos.
Fonte: Brasil Econômico, 15/07/2011
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