Existe uma enorme má vontade em todo o mundo com os ganhos dos financistas em 2009. Afinal, os bancos centrais e as autoridades fiscais gastaram recursos públicos em escala sem precedentes na tentativa de escapar do buraco negro que ameaçou tragar a economia global após o estouro da bolha imobiliária americana em 2007, o contágio dos mercados de crédito e o colapso das bolsas em 2008.
A impopularidade do auxílio aos bancos vem da percepção de que os lucros extraordinários dos financistas nos bons tempos são imerecidos se nos tempos de crise há uma socialização dos prejuízos. Os governos querem regulamentar os ganhos dos financistas, e até nosso Banco Central aderiu ao movimento.
A insatisfação é particularmente grave nos Estados Unidos, e atingiu a popularidade do presidente Obama. “Os bancos centrais modernos praticam atividades tão nefastas quanto os assaltos a mão armada. A diferença é que estes crimes são óbvios e deploráveis, enquanto as autoridades são frequentemente confundidas com pessoas honestas”, fustigam W. Bonner e L. Rajiva em “Multidões, profetas e mercados: sobrevivendo ao espetáculo das finanças e da política” (2007).
“A criação do Federal Reserve ocorreu após um encontro secreto de dois Rockefeller, dois Morgan e um representante do Kuhn & Loeb em uma propriedade do banqueiro J.P. Morgan. Descobertos pela imprensa, alegaram tratar-se de uma expedição de caça a patos. Esta é a essência do Fed: importantes autoridades tratando dos interesses de poderosos banqueiros.
O governo daria legitimidade a um cartel de grandes bancos, protegendo-os de perdas por maus empréstimos”, denuncia o congressista Ron Paul, que disputou a candidatura presidencial republicana em 2008, em “Fechem o Fed” (2009).
Enquanto isso, de seu lado, “o presidente do banco central americano, Ben Bernanke, acredita que a guerra contra a deflação seja como uma briga de rua: você vai ganhar sempre se estiver disposto a adotar medidas cada vez mais radicais, pois o banco central pode emitir e distribuir dinheiro até que a inflação ocorra”, registra Ethan Harris, em “O Fed de Ben Bernanke” (2008).
Há sugestões de reformas do sistema financeiro preparadas sob a coordenação do experiente Paul Volcker, ex-presidente do Fed, que certamente atacam as verdadeiras causas da crise: os equívocos do próprio Fed, as más práticas de instituições de crédito imobiliário semipúblicas, como Fannie Mae e Freddie Mac, e os excessos praticados pelos financistas: falta de transparência, descasamento de prazos entre ativos e passivos e endividamento exagerado.
Os bônus dos financistas, ofensivos ao interesse público quando financiados pelos contribuintes, são na verdade apenas um sintoma dessa configuração.
E não estavam alinhados sequer aos interesses das próprias instituições financeiras, que seriam uma espécie extinta não fosse a proteção do Fed.
(“O Globo”, 08/02/2010)
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