Para um paisano chegar a general tem que estudar muito, fazer muitos cursos e especializações, aqui e no exterior, ter sólida formação profissional e comportamento exemplar no respeito à disciplina, à hierarquia e ao cumprimento do dever. O Estado investe uma fortuna na sua formação, e como o Brasil não tem preocupações sérias de defesa territorial, os aspectos militares de combate e o armamento precário são secundários, sobra-lhes tempo para estudar. E, como se aposentam com 60 anos, ainda podem prestar bons serviços ao país.
Em tese. Porque o general João Figueiredo foi sempre o melhor aluno de sua turma, mas fez um péssimo governo. Era general da Cavalaria, mas se comportava como um cavalariço com pinta de cana do SNI e principalmente detestava governar e conviver com políticos detestáveis. Gostava mesmo era de cavalgar, metáfora de sua personalidade.
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Não é o caso do general Hamilton Mourão, da Artilharia, inteligente e preparado, que parece ter gosto de exercer o poder, dar opiniões e assumir posições com independência, educação e até algum humor. Não é uma ameaça a Bolsonaro, um conspirador, um golpista, como o veem os filhos do Mito, os minimitos, e os devotos. Quando aceitou ser candidato a vice, todos sabiam que não seria “vice decorativo” como Temer choramingou para Dilma. Era homem de comando, mas de respeito à hierarquia. Bolsonaro elegeria até um poste, ou um príncipe, como vice, mas seu capital eleitoral equivalia ao prestígio de Mourão com os generais e a tropa.
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Já o capitão Bolsonaro estava completamente despreparado para a presidência, foi formado pela convivência por trinta anos com a elite e a escória da política brasileira na Câmara. E engana-se quando atribui à atuação do filho nas redes sociais a sua vitória: o horror ao PT e à corrupção foi seu maior eleitor.
Mas, aos militares que estão em cargos de poder no lugar de políticos profissionais, não bastam formação e idoneidade, é preciso eficiência. A incompetência dá mais prejuízo que a corrupção.
Fonte: “O Globo”, 03/05/2019