Por Bernardo Santoro
Fiquei bastante chocado com a imagem de médicos cearenses xingando e protestando contra a chegada dos médicos cubanos ao Brasil ontem, em Fortaleza. Os imigrantes chegaram sendo hostilizados e chamados de incompetentes, em ação organizada pelo Sindicato dos Médicos do Ceará.
Essa atitude apenas reforça a minha visão sobre o caso, exposta no post “Programa ‘menos médicos’ no Brasil é praticado há anos“, onde afirmei que “durante anos, houve uma agenda governamental bem definida, numa parceria entre Ministério da Educação e Conselho Federal de Medicina, para diminuir o número de vagas nos cursos de medicina e de profissionais formados, aumentando assim, artificialmente, os salários de toda a classe médica brasileira”.
Continuei afirmando que “a intervenção ‘CFM-MEC’ levou, na verdade, a uma escassez de médicos e a uma menor qualidade do serviço em geral, pois quanto maior a competição, maior a necessidade de eficiência e especialização, e que, portanto, essa abertura governamental ao serviço médico estrangeiro é uma conseqüência direta da intervenção indevida do lobby do CFM no mercado acadêmico brasileiro de medicina”.
No mesmo artigo, tinha comentado que a maior parte do salário desses profissionais acabaria nas mãos do regime opressor cubano, e isso é que temos que destacar. Nós temos que distinguir os vilões dessa história: o governo brasileiro, o CFM e o governo cubano.
Já os médicos cubanos são apenas vítimas de um sistema autoritário que limita sua prática e sua liberdade. Eles estão aqui sem poder ter exercido o direito de escolha. Mesmo os que para cá vieram voluntariamente, foram impedidos de trazer as famílias. Por fim, ainda tem a maior parte do seu salário roubado pelos seus senhores/donos: os membros do governo cubano.
Se nosso sistema de saúde fosse um livre-mercado de verdade, quem acabaria atendendo as pessoas pobres do interior do Brasil seria mesmo os médicos vindo de países periféricos, que ganham mal e vivem pior ainda nos seus países de origem, só que com os seus salários pagos pelas pessoas do interior, e não pelo governo central, às custas de toda a nação.
Sem que a população local fosse obrigada a pagar pedágio para o politburo da terra natal do médico, o seu custo seria bem pequeno.
O que está acontecendo aqui não é muito diferente do que acontece em qualquer fluxo migratório do mundo: pessoas menos qualificadas de países periféricos indo para países mais avançados para fazer os serviços que os nativos não querem fazer. A única diferença é que tem um estado brasileiro envolvido patrocinando esse fluxo, quando na verdade o que ele tinha e fazer era simplesmente se manter inerte, sem chamar médicos de fora, mas sem impedí-los de atuarem aqui. O mercado resolveria a situação sozinho.
Precisamos encontrar um discurso consistente com a liberdade, e isso passa por não vilanizar as vítimas cubanas que estão vindo fazer um trabalho que os médicos brasileiros não querem fazer.
Fonte: Instituto Liberal
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