As expressões “esquerda” e “direita”, aplicadas à política, foram criadas na época da Convenção que se sucedeu à Revolução Francesa. Sentavam-se à esquerda os mais radicais, jacobinos. E à direita os mais moderados, girondinos. Houve espaço para os dois grupos no pós-revolução, primeiro para a esquerda, depois direita. Pode-se considerar Napoleão como reflexo da direita.
Com o aparecimento da política marxista, os seguidores desta filosofia político-econômica foram os esquerdistas, e os defensores do mercado livre, os direitistas. Todavia, a diferenciação perdeu força quando se constatou que tanto Hitler – em tese, de direita – quanto Stalin – em tese, de esquerda – eram ambos estatistas, antidemocráticos e violadores dos direitos fundamentais.
No caso específico do Brasil, se se tomar por base os governos da ditadura militar (de 1964 a 1985), perceberemos o seguinte: dizem que eles surgiram para evitar a ascensão do comunismo ao poder. Contudo, as práticas dos militares (direitistas) em muito se aproximaram das condutas das ditaduras de esquerda da América Latina (Cuba, por exemplo), pelo menos em três pontos: a economia estatizou-se mais do que nunca; os direitos humanos nunca foram tão vilipendiados; faltou-lhes democracia.
Com a queda do Muro de Berlim, o Consenso de Washington e a Terceira Via (Anthony Giddens), falar-se em esquerda e em direita se tornou inócuo, posto que inúmeros governos passaram a adotar a mesma cartilha, pelo menos no campo econômico. Cito uma comparação: Itamar Franco e FHC, pais do Real, fixaram as bases deste plano de estabilização econômica; Lula e Dilma, sem grandes distorções – mas com erros pontuais gritantes – mantiveram as mesmas bases macroeconômicas levadas a cabo antes por Itamar e FHC. Logo, o que teria sobrado para a diferenciação entre esquerda e direita no Brasil? A resposta é: pouco, mas este pouco é bastante significativo.
Vejamos divergências e convergências entre esquerdistas e direitistas. Primeiro, as divergências: (i) direitistas são mais democráticos; (ii) direitistas são melhores defensores das liberdades e garantias fundamentais; (iii) direitistas são menos estatistas; (iv) esquerdistas têm pouco ou nenhum tato nas relações internacionais. Convergências: (i) macropolíticas econômicas similares; (ii) programas de inclusão e de proteção social similares na base (é bom lembrar que foi o governo Itamar Franco que criou o Programa de Segurança Alimentar, chefiado por Betinho e por Dom Mauro Morelli).
Distantes cerca de um mês das eleições presidenciais de 2014, percebe-se o seguinte quadro no Brasil: duas candidaturas em muito se assemelham, as que têm como protagonistas as mulheres. Seriam elas de esquerda e o ponto mais comum entre as duas reside na expressão: corrupção desenfreada. A outra candidatura forte, esta encabeçada por um homem, é a única que pode se considerar verdadeiramente oposicionista.
Considerando que estamos na segunda década do século XXI – e após o colapso do comunismo “econômico” até na China –, não há como sustentar que as duas candidatas sejam totalmente de esquerda, nem que o único oposicionista de peso seja totalmente de direita. O que difere bastante este das duas primeiras é, sem dúvida, o trato que este pretende dar às liberdades laicas (sobretudo à liberdade política comum numa democracia e à liberdade de imprensa) – bem maior do que aquilo que vem sendo praticado e prometido pelas duas “moças” candidatas, que, de um modo ou de outro, são areia da mesma carga.
Fala bem neste artigo o professor Alexandre Pagliarini. Só se esquece de dizer que Marina e Dilma conviveram a vida inteira debaixo das asas do Lula e do PT.
Concordo com Alexandre Pagliarini. Esta coisa de esquerda e direita não existe mais. Só na cabeça das donas Dilma e Marina. Ui!
Não é que Dilma e Marina sejam “areia da mesma carga”, como disse o Dr. Alexandre Pagliarini. Na realidade, deve-se soltar o verbo e dizer que elas são “farinha do mesmo saco petista”!