É simples, prático e eficiente: o deputado aprova uma emenda destinando uma verba ao Ministério do Turismo para uma ONG fazer um show ou um evento. A ONG de araque repassa a bolada para uma produtora, que não precisa fazer o evento, porque não há fiscalização. E o dinheiro some em contas de “laranjas”. Era o golpe da moda, na alta ralé e no baixo clero de Brasília não se falava de outra coisa, era o sucesso da atual legislatura, a criatividade de nossos parlamentares não tem limites. Pena que a Policía Federal, o Tribunal de Contas e a imprensa acabaram com a festa.
É inútil gritar que é roubo e formação de quadrilha, que deveria ser proibido. Pelo seu alto potencial de desvios, as emendas para shows e eventos já são proibidas por lei votada pelos próprios parlamentares.
Mas mesmo assim eles continuam fazendo o que sempre fizeram, começando pelo próprio relator do Orçamento, Gim Argello, suplente e discípulo de Joaquim Roriz, que foi pilhado com emendas para ONGs fantasmas e renunciou. Para não cair, Zero-Gim pediu para sair. Mas nossos problemas acabaram: o novo ministro do Turismo vai ser o deputado maranhense Pedro Novais, 80 anos de idade e seis mandatos, escolhido a dedo por Sarney por sua vasta experiência em viagens por conta da Câmara. Lobistas, traficantes de influência e atravessadores do ministério estão em polvorosa, eles sabem que onde há dedo de Sarney a decência, o mérito e a eficiência imperam. Como no Maranhão e no Senado.
Com sua argúcia e o rigor de seus critérios, Sarney é um mestre em escolher os melhores e mais capazes. Capazes de tudo, como o conterrâneo Edison Lobão, que continua energizando o Ministério de Minas e Energia com sua presença.
Como ensinou Lula a um jornalista, aos gritos: falar que Sarney é um oligarca atrasado é puro preconceito. Talvez da elite inconformada com suas indicações de auxiliares dessa qualidade para os governos de Lula e de Dilma.
Diante da disputa selvagem por cargos no novo governo, perguntar não ofende: se Dilma peitar o fisiologismo do PMDB, eles vão fazer o quê: apoiar a oposição ou sabotar o governo?
Fonte: O Globo, 17/12/2010
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