Ao contrário das previsões pessimistas de que seria malsucedido o leilão para definir o consórcio que construirá e operará o primeiro aeroporto a ser concedido à iniciativa privada no governo da presidente Dilma Rousseff, o grupo denominado Inframérica – formado pelas empresas Infravix, da construtora Engevix, e pela argentina Corporación América, especializada na gestão de aeroportos em países como Argentina, Peru e Argélia – arrematou com um lance de R$ 170 milhões o direito de erguer e explorar o Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte.
A oferta feita ontem em pregão na BM&FBovespa, em São Paulo, foi mais de três vezes maior que o lance mínimo (R$ 51,7 milhões) estipulado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), organizadora do processo de privatização dos terminais, que foi disputado ainda pelas empresas MPE e Instituto de Transportes Aéreos do Brasil, do consórcio Aeroportos Brasil, com lance de R$ 166 milhões e ágio de 221,08% em relação ao valor mínimo esperado.
O grupo vencedor terá até três anos para construir os terminais e um prazo de mais 25 anos para a exploração. A estimativa da Anac é de que sejam investidos R$ 650 milhões na construção do complexo que substituirá o atual Aeroporto Internacional Augusto Severo, de Natal (RN), e poderá ficar pronto para a Copa de 2014, a ser realizada no Brasil. (A capital potiguar será uma das sedes do torneio.)
A previsão de movimento do aeroporto licitado ontem é de 3 milhões de passageiros em 2014, passando a 4,7 milhões em 2020, e 7,9 milhões, em 2030.
A urucubaca desfechada para que o leilão fosse para o beleléu parece ter vindo da própria iniciativa privada – interessada em diminuir o preço a ser desembolsado – e também do fogo amigo de alas do Partido dos Trabalhadores (PT), insatisfeitas com o processo de privatização e com outras providências tomadas por Dilma Rousseff que, curiosamente, remontam à origem do PT, quando ainda era uma agremiação que demonstrava ser intolerante com conchavos políticos, razão principal da simpatia que angariou desde seu surgimento nos movimentos sindicais da região do ABC paulista, em meados dos anos 1970.
Não é plausível acreditar que a administração pública só flui com olhos abertos para a distribuição de cargos aos partidos da base aliada e vista grossa às malfeitorias de integrantes dessa coalizão.
Alegar que aplicar o rigor da lei a esses escroques inviabiliza a governabilidade é chantagem pura, uma hipocrisia semelhante à dos países que apoiavam o ditador líbio Muammar Kadafi fingindo não ver as atrocidades a ele atribuídas e usadas atualmente para justificar a sua deposição. Coerência e política não precisam ser palavras antagônicas.
Fonte: Brasil Econômico, 23/04/2011
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