Sem as doações de empresas nas eleições deste ano, os pré-candidatos à presidência lutam em conseguir recursos para o financiamento de campanha. Desde que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) liberou o financiamento coletivo pela internet, no dia 15 dia maio, sete políticos já lançaram suas plataformas.
São eles: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Álvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (Novo), Manuela D’Ávila (PCdoB)e Guilherme Boulos (Psol).
Juntos, os pré-candidatos já arrecadaram 861,8 mil reais em doações. Quem ainda está de fora dessa lista é o tucano Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e Jair Bolsonaro – os três, porém, já sinalizaram que vão aderir às vaquinhas online.
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Até o momento, quem mais recebeu doações foi o ex-presidente Lula. Até às 13h de quinta-feira (19), o petista arrecadou 390,8 mil reais de 4.228 apoiadores.
Em segundo lugar, quem mais arrecadou foi o candidato do Novo João Amoêdo, que dispõe de 273,8 mil reais em contribuições para a sua campanha. Já quem menos arrecadou foi Álvaro Dias, do Podemos: o pré-candidato soma 19 mil reais em doações.
Além dos valores arrecadados por meio das vaquinhas para aumentar o montante de recursos, os políticos terão à disposição o fundo partidário e o fundo eleitoral público de 1,7 bilhão de reais. Vale lembrar que as doações de pessoas físicas nessas plataformas são limitadas a 10% do rendimento bruto do cidadão em 2017.
Para especialistas consultados por EXAME, o financiamento coletivo chegou para ficar no Brasil, mas alguns fatores ainda pode criar resistência na hora de o brasileiro tirar a mão do bolso para ajudar nas campanhas políticas.
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Desconfiança com a classe política
A chegada do crowdfunding coincide com um momento de escândalos de corrupção envolvendo uma parte considerável da classe política brasileira. “As polêmicas de corrupção fizeram com que o eleitor colocasse os políticos em um saco só, reproduzindo todos como semelhantes”, afirma Adriano Oliveira, cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Quando não há confiança na política, não existe razão para financiá-la”.
Na opinião de Oliveira, até que os brasileiros se sintam representados, a doação para campanhas eleitorais será um fracasso. A tradição pode até ser criada, mas deve demorar.
Declaração pública de voto
Por lei, a arrecadação de recursos online obriga o doador a registrar o seu nome completo, CPF e o valor transferido para o candidato. Em geral, a maioria das plataformas discriminam todos os dados do contribuinte.
O problema, de acordo com o coordenador do curso de marketing eleitoral da ESPM-SP, Victor Trujillo, é que declarar as doações publicamente para um determinado político pode criar uma associação direta com o voto do eleitor, que é sigiloso. “O legislador precisa evitar fraudes. Mas, na prática, é pedir para que o eleitor identifique em quem ele vai votar”, alerta.
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Economia em baixa
Outro fator que também pode travar as vaquinhas online é o momento ruim da economia brasileira. Apesar da melhora de alguns importantes indicadores econômicos, a população ainda está se recuperando, avaliam os especialistas.
“Em um cenário de PIB positivo, prosperidade e crescimento da atividade econômica, teríamos um eleitor mais simpático”, diz Truijillo. “Para pedir que brasileiro tire a mão do bolso agora é necessário um candidato extremamente compromissado com os eleitores. É o modelo ideal, mas na hora errada”, argumenta.
Fonte: “Exame”