Por Douglas Falcão e Renato Pacca
Voluntários da pátria é o nome dado aos soldados do exército brasileiro, durante a Guerra do Paraguai, que se alistavam espontaneamente, por espírito patriótico. Atualmente membros do governo brasileiro, muitos deles do mais alto escalão, vem agindo de forma igualmente espontânea porém como verdadeiros voluntários da pátria cubana, em incontido e profundo sentimento de subserviência ao regime dos irmãos Castro.
A concupiscência política com todas as atitudes dos dirigentes cubanos demonstra a real natureza das convicções e ideais de poder do atual governo brasileiro. São inúmeras as declarações tentando igualar a condição política cubana à das democracias brasileira e norte-americana, fazendo tábula rasa da Declaração Universal dos Direitos do Homem.
A incompreensível obsessão por respeitar e proteger o atual status quo de Cuba, justificada por um ingênuo discurso que pretende estabelecer um utópico diálogo multilateral que iguale todos os países em seus pecados e virtudes, faz surgir uma natural apreensão quanto ao ideal imaginado pelos atuais dirigentes para o futuro do Brasil.
Nas últimas semanas, por exemplo, observamos a polêmica envolvendo o governo do Brasil e a dissidente política cubana Yoani Sánchez. Nas democracias, a dissidência política se organiza no cenário partidário como oposição. Em estados totalitários como Cuba, porém, não há oposição, apenas vozes discordantes mantidas no isolamento como a de Yoani, duramente perseguida, vigiada e impedida de exercer o direito básico de ir e vir.
O exercício da política pressupõe o debate e não há lugar para a repressão, para a criminalização de determinada opinião, seja ela qual for. As democracias mais estáveis do mundo foram construídas com base no intenso debate de idéias. A imprensa livre é consequência direta desse fato. Consequência, repita-se, e não causa.
Em regimes de força, como o cubano, ou em sociedades dominadas pela hipocrisia travestida de correção política, subsiste clara tendência de criminalizar qualquer expressão do pensamento livre contrária ao establishment e de cercear a liberdade daqueles que ousam questionar e pensar à margem da literatura oficial.
De uma presidente presa durante o regime militar brasileiro, impedida de exercer o direito básico de liberdade de opinião e de ir e vir, não se esperava o menosprezo aos presos políticos do regime cubano, como se os mesmos constituíssem um mero problema interno do país e não uma questão universal de direitos humanos.
Voltando aos Voluntários da Pátria, com o passar do tempo e a diminuição do entusiasmo da população o governo imperial passou a exigir cotas e o recrutamento forçado de voluntários. Um absurdo tipicamente brasileiro, como os milhões atualmente investidos pelo governo em Cuba, que transformam todos os cidadãos em “voluntários forçados” do regime castrista.
Douglas Falcão e Renato Pacca são advogados
Excelente e lúcido artigo.
Se o patriotismo é o último refúgio dos canalhas, o que dizer do patriotismo pela pátria alheia?!?! Esse pessoal não se emenda mesmo…