Nos anos 1980 e 1990, os brasileiros se acostumaram a criar expectativas acerca dos planos governamentais de combate à inflação. Os pacotes eram esperados pela população com a mesma ansiedade que os torcedores demonstram antes das partidas de futebol. A indicação de um ministro da Fazenda passou a ter para a população uma importância parecida com a escolha do técnico da Seleção Brasileira.
O sucesso fugaz de cada plano equivalia a uma campanha medíocre de um time no campeonato. E os ministros perdiam o emprego com a mesma rapidez dos técnicos de futebol malsucedidos.
Houve até quem comparasse o cargo de ministro da Fazenda com o de um primeiro-ministro, dada a sua importância e cambiabilidade.
Em menos de dois meses de governo, a presidente da República, Dilma Rousseff, tomou pelo menos quatro medidas de impacto econômico que, no final do século passado, soariam como um pacote.
A diferença é que não embrulhou a população nem a vida das empresas. Uma espécie de síntese das teorias políticas que estabelecem o período de cem dias para que um chefe de Estado aproveite o clamor das urnas para tomar as medidas necessárias – ainda que antipáticas – para pôr ordem na casa.
Já o estilo de Dilma é a antítese do de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Este fala até pelos cotovelos, enquanto sua sucessora se notabiliza pela discrição. São jeitos diferentes de fazer política.
O atual preza pelo pragmatismo, como atestam os empresários ouvidos pelas repórteres Cláudia Bredarioli e Natália Flach, nas páginas 4 e 5 desta edição de Brasil Econômico.
Ainda falta muito a ser feito para limpar as cascas de banana espalhadas pelas veredas do desenvolvimento do país, como os conhecidos problemas infraestruturais, a exagerada e intrincada carga tributária e as deficiências do sistema educacional.
Oxalá a circunspecção de Dilma continue sendo proporcional a sua disposição de resolver essas questões.
Fonte: Brasil Econômico, 18/02/2011
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