Estudo do IDados relacionou dados de Índice de Ética e notas na avaliação internacional
Os problemas éticos do país também podem se manifestar nas escolas de outras maneiras que não incluem somente as discussões em salas de aula. Um cruzamento de dados feito pelo Instituto IDados revelou que os países menos éticos, como Brasil e República Dominicana, também são aqueles com desempenhos comparativamente mais baixos no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA, na sigla em inglês).
O Pisa avalia estudantes de 15 anos de idade em todo o mundo nas áreas de matemática, leitura e ciências. Para relacionar os dados da avaliação ao Índice de Ética e Corrupção, retirado do Índice Global de Competitividade (IGC), o economista Guilherme Hirata calculou a média entre as notas dos alunos de cada nação nas três provas do Pisa. Considerando apenas os países com dados para as duas variáveis — Índice de Ética e Corrupção e notas no Pisa —, entre 47 nações, o Brasil foi o país mais corrupto e com terceira pior média no Pisa: 395,03. No outro extremo, Cingapura foi considerado país mais ético e teve média 551,62 na avaliação internacional.
O pesquisador Guilherme Hirata, que tabulou os dados, explica que, embora não seja possível cravar a existência de um processo direto de causa e consequência, já que outras questões podem influenciar no desempenho dos alunos, é possível dizer que há alguma relação entre os dados.
– A minha interpretação é que essas informações dão uma luz sobre futuro. A gente sabe que a corrupção está relacionada ao desvio de recursos públicos, o que acaba tirando dinheiro de áreas prioritárias. Então, provavelmente há um efeito da corrupção sobre os resultados do Pisa, uma vez que recursos destinados à educação podem não ter sido investidos. Todos os países que estão mal no Índice de Ética e Corrupção também estão mal no Pisa, e aqueles que são mais éticos estão melhores na avaliação. Então, começamos a desconfiar que há alguma relação- afirma o pesquisador.
A educadora Cleuza Repulho afirma que, de fato, pode haver uma relação entre os dois aspectos. Segundo ela, a possível falta de recursos aliada à uma grande desigualdade de renda têm impacto sobre a educação brasileira.
– Não se faz educação sem recurso. Então, seja por decisão de governo de fazer cortes, ou por corrupção, se recursos forem rertirados da educação isso pode atrapalhar o desempenho dos brasileiros nessas avaliações. Os países que estão mais na frente no Pisa, em algum momento da sua história focaram recursos para garantir direito à educação. Eles entendem a educação como algo prioritário- analisa Cleuza.- Além disso, a desigualdade é um fator que influencia. Quando não se dá oportunidade iguais para todos é difícil promover educação. Equidade é um fator importante para o país se desenvolver.
O estudo também relacionou o Índice de Ética e Corrupção, retirado do Índice Global de Competitividade (IGC) para o período de 2016 a 2017, com as médias dos países no Pisa e também com dados sobre desigualdade de renda segundo o Índice de Gini- que serve para medir o grau de concentração de renda dos grupos-, e informações sobre PIB per capita.
Além do mau desempenho na avaliação, as nações menos éticas também apresentam menor PIB per capita e maior desigualdade de renda. Esses mesmos países também são aqueles com maior dificuldade de crescimento.
– Na primeira vez que comecei a tabular os dados achei até que era meio óbvio, a gente sempre tem a impressão de que se o país é corrupto ele vai crescer menos. O dinheiro público vai para o bolso de poucas pessoas, a desigualde também aumenta. Esse estudo é uma constatação de um dado que a gente já suspeitava. Ainda que os índices tenham suas limitações- diz Hirata.
Fonte: “O Globo”
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