Sinceramente, pensava que não mais voltaria a falar do mensalão. Todavia, os fatos parecem não querer o descanso da paz. Desta vez, a novidade veio de Portugal, não do restaurante Eleven, mas de entrevista televisa lá exibida. Para manter o costume, o ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva soltou mais uma de suas pérolas, vindo a afirmar que o “mensalão teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica”, concluindo: “O que eu acho é que não houve mensalão”.
Ora, como comentarista de decisão judicial, o ex-presidente Lula é um grande palpiteiro. E o palpite é tão maiúsculo, que chega às raias do descoco, conseguindo a proeza de medir o imensurável. Aliás, o critério da medida é um segredo que vive na cabeça do medidor. O certo é que a referida avaliação não possui a mínima margem de credibilidade, pois aquele que não viu e não sabia de nada é despido de autoridade para julgar, de forma tão profana, a Suprema Corte de nosso país.
Objetivamente, o Supremo jamais sofreu tamanha agressão democrática. Em períodos autoritários, houve de tudo; até mesmo um acórdão do STF foi cassado por um decreto-lei executivo, ensejando conhecida reação do saudoso ministro Carlos Maximiliano. O regime militar também deixou fundas cicatrizes: com base no AI-5, os eminentes ministros Victor Nunes, Hermes Lima e Evandro Lins foram arbitrariamente cassados, resultando no pedido de aposentadoria do ministro Gonçalves de Oliveira, então presidente da Corte. Posteriormente, Adauto Lúcio Cardoso, indignado com a censura oficial, retirou a toga, jogou-a sobre a cadeira e se retirou do plenário para nunca mais voltar.
Sim, sendo formado por mortais, o Supremo não é perfeito. No entanto, o caráter colegiado do órgão visa justamente reduzir a possibilidade do equívoco que, pelo visto, é imune a santas almas que se julgam no direito de emitir palpites sobre a dignidade da Corte. O interessante é que o palpiteiro da hora foi um dos que escolheu muitos dos ministros que lá estão. Terá sido, então, um mau juiz presidencial ou, de tão bom, está acima do bem e do mal?
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