A pandemia do novo coronavírus expôs de forma explícita as desigualdades em todo o mundo, e pode reverter o desenvolvimento humano pela primeira vez desde 1990, disse a Organização das Nações Unidas (ONU).
A entidade disse, porém, que a crise revelou a força da ação coletiva diante de uma ameaça comum, e exortou o mundo a mostrar a mesma força no combate à mudança climática.
“A pandemia da Covid-19 está desencadeando uma crise no desenvolvimento humano”, disse o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud) em um relatório.
Outros choques – como a crise financeira de 2007-2009 ou o surto de Ebola na África Ocidental em 2014-2016 – abalaram, mas não impediram, avanços no desenvolvimento ano a ano de forma geral, disse o chefe do Pnud, o germano-brasileiro Achim Steiner.
“A Covid-19 pode mudar esta tendência com seu golpe triplo na saúde, educação e renda”, acrescentou.
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Além das mortes da Covid-19, que já ultrapassam 330 mil, a crise pode ter como efeito indireto a morte de mais 6 mil crianças por dia devido a doenças evitáveis nos próximos seis meses, segundo o Pnud.
Seis de 10 crianças de todo o mundo não estão recebendo educação por causa do fechamento das escolas, e como recessões profundas estão afetando a maioria das economias o declínio no índice de desenvolvimento humano do Pnud seria equivalente à anulação de todo o progresso dos últimos seis anos.
O declínio está afetando nações ricas e pobres, mas se acredita que será muito mais agudo em países em desenvolvimento menos habilitados a lidar com as consequências sociais e econômicas da pandemia.
“Se não incluirmos a igualdade na caixa de ferramentas políticas, muitos ficarão ainda mais para trás”, alertou Pedro Conceição, diretor do escritório do Pnud que produz seu Relatório de Desenvolvimento Humano anual.
“Isto é particularmente importante para as ‘novas necessidades’ do século 21, como o acesso à internet, que está nos ajudando a nos beneficiarmos da tele-educação, telemedicina e a trabalhar em casa”, acrescentou ele em um comunicado.
O Pnud estimou que 86% das crianças no ensino primário estão, na prática, fora das escolas em países de baixo desenvolvimento por carecerem das ferramentas para o aprendizado digital – a taxa é de 20% nas nações mais ricas.
Quanto à aplicação das lições da pandemia ao combate à mudança climática, “se precisávamos de uma prova de conceito de que a humanidade consegue reagir coletivamente a um desafio global compartilhado, agora estamos vivendo-a”, disse o relatório.
Fonte: “O Globo”