No Brasil, Jair Bolsonaro não consegue se livrar dos seus fantasmas, em permanente campanha, mais chocando do que convencendo a opinião pública pelas suas movimentações desastradas. Nos EUA, o mesmo acontece com Donald Trump. Em comum, nos dois presidentes, o fato de usarem a rede social a todo o momento. O detalhe, no entanto, é que a sociedade norte-americana possui instituições muito mais maduras e plenas do que o Brasil. Por lá, por exemplo, o Supremo é respeitado, ao contrário do que no Brasil, numa composição polêmica de 11 ministros que vivem atuando ao seu “bel prazer”.
Mas não falemos sobre este tema nesta semana. Tentemos focar sobre como enxergamos a economia mundial neste momento de transição.
Depois de dois anos de crescimento razoável, para muitos, sincronizado, já se observa o mundo perdendo dinamismo, desacelerando. Aqui surge a dúvida. Qual a intensidade, forte ou suave? Não se sabe ainda. Para sustentar esta linha de argumentação é preciso estar atento a alguns eventos ocorrendo em diversos dos principais países do globo.
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Um deles é a tensão comercial, o trade war entre China e EUA. Tivemos uma trégua de alguns meses entre ambos, que venceu agora no dia primeiro de março. Negociações retornaram e já se fala numa nova trégua. Um sintoma de que os EUA vão conquistando espaço foi a decisão de a China passar a comprar soja dos EUA, o que deve nos prejudicar por sermos o maior exportador desta commodity para os chineses. Eles, que cresceram 6,6% em 2018, por este contencioso no comércio global, devem crescer menos neste ano; entre 6,0% e 6,5%, segundo o governo, mais próximo de 6% segundo esta Consultoria.
Sobre a economia norte-americana, mostrou alguma perda de dinamismo nos últimos meses, dada a paralisia da máquina pública, pelo shutdown, mas também por estes impasses comerciais com os chineses. No ano passado os yankees cresceram 2,9%, dentro do esperado, mas no quarto trimestre houve desaceleração, passando de 3,4% no terceiro para 2,6%. Esta parece ser a projeção da OCDE para este ano, com o FMI na mesma toada, projetando 2,5%. A justificar esta perda de dinamismo, os mesmos motivos, o que vem levando Trump a pressionar o Fed sobre sua conduta “paciente”. Até quando o juro será mantido estacionado?
Falando da economia global como um todo, a OCDE visualiza esta desaceleração, rateando também na intensidade. Acha que o mundo deve perder dinamismo neste ano e no próximo em função do cenário de incerteza política, tensões comerciais e deterioração da confiança das empresas e entre os consumidores. Diante disso, a economia global deve crescer 3,3% neste e 3,4% em 2020, mais uma vez repetindo o FMI. Preocupa, nesta leitura, no entanto, a situação da Zona do Euro, também impactada pela redução no comercio global, decorrente do trade war entre EUA e China, e também pelo Brexit, impasse fiscal na Itália, movimentos nacionalistas em vários dos principais países e problemas no deslocamento dos fluxos migratórios. A OCDE se mostra mais desanimada num ano que se prenuncia o pior desde a crise de 2012 e 2013. O continente não deve crescer mais de 1% neste ano e no próximo, com o Reino Unido duramente impactado, crescendo em torno de 0,8%, ainda mais se o Brexit se confirmar. Sobre este, articulações entre Theresa May e os Parlamento britânico não serão surpresa se o resultado for uma nova rodada, uma nova votação para a saída ou não da União Europeia.
+ Marcello Averburg: Desenvolvimento econômico e exportação industrial
Interessante observar que se nos países avançados são variados os temores, nos emergentes, mesmo com a China perdendo fôlego, ainda predomina certo otimismo de manutenção da estabilidade, por países como Índia ainda possuírem bom dinamismo. Neste ano e no próximo os indianos devem manter o PIB em avanço próximo a 7%.
Por outro lado, indo para a América Latina chegamos ao caos venezuelano, com a “ditadura” Maduro caindo de podre, mas ainda resistindo por apoio de militares corruptos. Maduro resolveu promover vários oficiais a generais, com uma série de regalias o que, diante de um cenário de “terra arrasada”, acabou caindo como uma luva. Como disse Bolsonaro, com os militares têm-se os fiadores do que pode ou não ser feito. São eles, na visão do presidente, a última palavra sobre liberdade ou não.
É neste momento que chegamos ao Brasil, com crescimento previsto em 1,9%, depois em 2020 acelerando a 2,4%, desde que a reforma da Previdência passe no Congresso. Todos colocam estas amarras ao presidente Bolsonaro, nem um pouco à vontade com esta pressão.
Visualizando o futuro, a OCDE enxerga a trajetória do petróleo em patamar próximo a US$ 60, depois de ir ao pico em outubro (US$ 86), o que tende a impactar no crescimento global; o endividamento dos países também como algo preocupante, ainda mais para aqueles que adotaram uma política fiscal muito ativa depois da crise de 2008; e o risco de aperto monetário nos EUA, vis-à-vis o ritmo de ganhos de produtividade e os desdobramentos das tensões criadas por Donald Trump no tabuleiro global.
Estejamos atentos!!