Na quinta-feira da semana passada, fui responsável pela palestra de abertura do 19º Encontro dos Economistas da Região Sul, organizado pelo Corecon do Paraná, no belíssimo campus da Universidade Positivo, em Curitiba. A organização do evento pediu-me que discorresse sobre as possibilidades de a economia brasileira dobrar a renda per capita em 15 anos.
Para dobrarmos a renda per capita, a economia terá que crescer nos próximos 15 anos à taxa média de 5,8% ao ano. Para termos uma ideia do desafio, ao longo do quadriênio da presidente Dilma, o crescimento médio anual será de 1,7%. Nos oito anos de Lula, nosso melhor período nos últimos 35 anos, crescemos à taxa média de 4% ao ano.
Para conseguirmos elevar nosso crescimento para o patamar anual de 5,8%, será necessário elevar a taxa de investimento dos atuais 18% do PIB para algo próximo de 25%.
Adicionalmente, a taxa de crescimento da produtividade sistêmica da economia, que no período Lula avançou 1,5% ao ano e no período Dilma apresentará expansão nula, terá de ir para algo próximo a 2,5% ao ano. Duas estatísticas –taxa de investimento e produtividade sistêmica– e duas agendas distintas. Vamos a elas por partes.
A elevação da taxa de crescimento da eficiência sistêmica da economia dependerá da reversão do pacote de políticas adotado a partir de 2009, conhecido por nova matriz econômica.
A nova matriz econômica aumenta muito a intervenção direta do Estado no dia a dia do funcionamento da economia. Amplia muito a discricionariedade e reduz a previsibilidade, além de distorcer os preços relativos. Trocamos regras, regimes e sistemas por medidas administrativas, sem consistência sistêmica, a reboque dos fatos e de forma tópica.
Além de toda a desorganização na institucionalidade microeconômica promovida pela nova matriz econômica, ela desorganizou também o regime de política macroeconômica. Um exemplo é suficiente: a inflação tem que ser de 4,5% ao ano. Essa é a meta. A banda de dois pontos percentuais para cima ou para baixo serve para acomodar choques de oferta.
Há hoje clara pressão para um ajustamento no câmbio. Como a inflação tem rodado no teto da meta nos últimos anos, o BC opera no mercado futuro para neutralizar a tendência de desvalorização, pois não há espaço para acomodarmos uma perda de valor da moeda, que cria pressões inflacionárias.
A redução dos preços das commodities deixa de ser compensada pela desvalorização do câmbio. Um sistema deixa de operar e, com ele, a previsibilidade.
Assim, a agenda de elevar a taxa de crescimento da produtividade sistêmica dependerá de recolocarmos a economia no caminho que ela trilhava até 2008. Atingir os 2,5% necessários para dobrar a renda em 15 anos talvez não seja possível, mas o 1,5% ao ano do período Lula pode ser recuperado.
O segundo ponto da agenda é elevar a taxa de investimento dos atuais 18% para algo mais próximo de 25%. Dado que já estamos absorvendo poupança externa na casa de 3,7% do PIB, o crescimento da poupança em sete pontos percentuais do PIB para financiar o aumento da taxa de investimento terá que ser na poupança doméstica.
Países que sustentam longos ciclos de aceleração do crescimento apresentam instituições que garantem que essa aceleração, fruto da melhora institucional e, consequentemente, da eficiência sistêmica da economia, poupe parcelas crescentes do ganho de produção. A elevação da taxa de poupança é consequência da aceleração do crescimento.
No Brasil, esse canal fundamental de sustentação de longos ciclos de crescimento está entupido pela economia política. A sociedade escolhe que a maior parcela do ganho de produção seja alocada no aumento do consumo. O ciclo de aumento do investimento acaba tendo que ser financiado por poupança externa.
A primeira agenda, elevação da produtividade, requer alterar o regime de política econômica. A segunda, o equilíbrio político. Não é possível crescermos 5,8%, mas poderíamos chegar a 3,5% ou um pouco mais.
Fonte: Folha de S. Paulo, 10/08/2014
No Comment! Be the first one.