São animadoras algumas declarações dos ministros Joaquim Levy (Fazenda), Armando Monteiro (Desenvolvimento), Kátia Abreu (Agricultura) e Mauro Vieira (Relações Exteriores) sobre a especial importância de maior envolvimento do país no comércio internacional.
[su_quote]Urge a correção de erros estratégicos de nossa política externa[/su_quote]
Tais palavras são importantes não apenas por indicar intenção de colocar mais ímpeto em nossos esforços de exportação, mas, sobretudo, por deixarem clara a intenção de buscar mudanças em nossa própria política de comércio exterior.
Levy foi feliz em tema que hoje desperta atenção por parte de organismos multilaterais, meios acadêmicos e centros de pesquisa: o fenômeno da crescente tendência à fragmentação de processos produtivos entre diferentes países, com a formação de cada vez mais amplas e intrincadas “cadeias internacionais de produção”.
O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), em estudo recente, mostra que a nossa região –o Brasil incluído– está de fora da tendência à multiplicação de tais encadeamentos. Mostra também que, quando presente, só participa como fornecedora de matérias-primas e insumos, não tendo acesso às etapas ulteriores, mais sofisticadas e rentáveis por força da maior agregação de valor.
O estudo assinala que a Ásia e a Europa estão adiantadas nesse processo, tanto dentro de cada região como no relacionamento com empresas dos EUA.
A leitura do trabalho do BID levou-me a perceber manifestações anteriores desse fato. Contemplei com admiração e até surpresa, por exemplo, quando embaixador em Pequim, entre 1989 e 1993, como a diplomacia chinesa serviu à reinserção do país na economia internacional, superando as fortes tensões que haviam marcado seu relacionamento com praticamente todos os vizinhos.
Mais tarde, entre 2004 e 2006, como embaixador em Washington, vi-me na contingência de atuar junto ao Congresso americano, em coordenação com a Confederação Nacional da Indústria, a Fiesp e a Câmara Americana de Comercio, para evitar a exclusão do Brasil no Sistema Global de Preferências Comerciais.
O principal argumento usado por nós foi o do grave impacto político que nossa exclusão suscitaria no país. E, em outro plano, o fato de que mais de 40% de nossas vendas constituíam insumos relevantes para a competitividade da indústria norte-americana.
Dei-me conta de que esse fenômeno não diz respeito apenas a questões de política econômica, industrial ou de comércio exterior. Tem a ver com política externa, pois é a ela que muitas vezes cabe abrir caminho para a política comercial.
Nesta dificílima etapa em que nos encontramos, urge a correção de erros estratégicos de nossa política externa, como a excessiva priorização das relações Sul-Sul e da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio, em favor de abordagens mais realistas e pragmáticas.
As relações com outras nações em desenvolvimento não devem ser menosprezadas, mas não são suficientes para nos propiciar níveis mais elevados de desenvolvimento para o país, ou para nos viabilizar um salto qualitativo em nossa inserção na economia internacional, mediante ganhos de produtividade, de competitividade e de inovação.
É nos mercados da América do Norte e da Europa, sobretudo, que melhor podemos nos inserir. É da interação com eles que podemos mais fácil e prontamente lograr conhecimento, novas tecnologias e técnicas de produção, gestão, governança e conexões com outros atores.
Podemos adquirir também experiência e desenvoltura que nos propiciem a redução de nosso enorme atraso em relação às novas tendências que vão confirmando os novos padrões de comércio e interação entre as nações.
Fonte: Folha de S.Paulo, 28/01/2015.
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