Em 2012 a economia mundial deve crescer no mesmo ritmo ou até menos do que em 2011. O FMI projeta crescimento do PIB mundial, calculado em paridade de poder de compra, de 4% em 2012, igual a 2011. Nas estimativas do JP Morgan, o mundo cresceu menos em 2011, 3,5%, taxa que deve cair para 3,1% este ano, por conta do crescimento mais lento na Europa e nos emergentes.
Esses números contrastam com o otimismo dos mercados financeiros, com alta nas bolsas e na oferta de financiamento a países e empresas, um quadro bem diferente do observado na segunda metade de 2011, quando predominou o mau humor dos mercados e a percepção de que as contrações fiscal e creditícia na Europa podiam colocar o mundo outra vez em recessão.
Três fatores principais explicam esse quadro. Primeiro, a piora no desempenho anual reflete em parte um efeito estatístico, resultante de a economia mundial ter desacelerado no fim de 2011. Assim, de acordo com as estimativas do JP Morgan, a expansão média trimestral este ano deve se dar a um ritmo 16% mais acelerado do que em 2011. Em especial, espera-se que o nível de atividade se recupere mais no segundo semestre.
Segundo, a injeção de liquidez pelo Banco Central Europeu, na casa de 1 trilhão de euros, afastou os problemas de financiamento dos bancos da Área do Euro e o risco imediato de quebra de alguma grande instituição. Além disso, os bancos da região estão usando parte desse dinheiro barato para comprar títulos soberanos, reduzindo o custo de financiamento dos países da periferia europeia. Some-se a isso o “calote organizado” da dívida grega, que pavimentou o acesso aos recursos da União Europeia e do FMI, afastando por ora o risco de que a Grécia saia da Área do Euro e os mercados passem a pressionar outros países também muito endividados.
Terceiro, os sinais de que o mercado de trabalho americano está se recuperando e o setor imobiliário pode ter atingido o fundo do poço, doravante passando a contribuir para a expansão do PIB. Ressalte-se, em especial, a geração de empregos revelada nas pesquisas empresariais e a lenta mas consistente queda no número de novos pedidos de seguro-desemprego. Também relevante é a melhora da situação fiscal dos governos subnacionais.
Dado esse quadro, duas questões se colocam. Primeira: qual o risco de que, como no ano passado, as coisas piorem na segunda metade deste? Segunda: se isso não ocorrer, quais as implicações dessa recuperação global para o Brasil?
A retomada agora parece mais sólida do que em 2011, mas ainda há fatores que podem interrompê-la. Entre os principais destacam-se a alta no preço do petróleo, a situação ainda difícil nos países da periferia europeia e a transição política em curso na China, que vem se revelando mais complicada do que os dois primeiros pontos refletem os limites das políticas macroeconômicas nos EUA e na Europa, muito calcadas em ampla expansão da liquidez. De um lado, a elevada liquidez pressiona o preço das commodities, em especial do petróleo, e isso reduz a renda disponível do consumidor. De outro, ela não elimina a necessidade de ajuste fiscal em Espanha, Portugal, Itália e França, com impacto negativo sobre o nível de atividade na Área do Euro.
A incerteza gerada pela disputa política em curso na China é um capítulo à parte. Ela opõe os defensores de reformas pró-mercado, voltadas para indústrias menos poluentes e menos calcadas em elevados investimentos em capital fixo, bases de uma mudança de modelo, a políticos mais conservadores, que preferem manter o modelo atual, pela percepção de que ele oferece menos riscos políticos. Uma recuperação mais forte e sustentada da economia global pode ajudar os reformistas, se contribuir para acelerar o crescimento chinês, mas também pode complicar sua situação, se gerar uma pressão muito forte sobre o preço dos alimentos.
Para o Brasil, a aceleração sustentada do crescimento global vai ser boa em médio prazo, mas, em curto, trará novos desafios. O principal deles será a alta na inflação global, tendo em vista que os bancos centrais dos países ricos não vão alterar suas políticas expansionistas até, ou mesmo depois de, a recuperação econômica estar consolidada. Isso muda o cenário com que trabalha o nosso Banco Central, de que o fraco desempenho global vai baixar a inflação doméstica, colocando em xeque a atual estratégia de redução dos juros. Se a economia mundial outra vez desacelerar, o problema maior vai ser a valorização cambial e o crescimento desigual da economia.
Fonte: Correiro Braziliense, 29/03/2012
No Comment! Be the first one.