Ocorrido no último dia 1º de março, no Instituto Millenium, o “Fórum Democracia e Liberdade de Expressão” é analisado por muitos como uma “Conferência Nacional da Comunicação de Direita”.
Enquanto a Confecom, realizada em dezembro de 2009, contou com a participação da sociedade civil, empresários e integrantes do governo, e partiu de etapas estaduais para ser finalizada numa Conferência Nacional, em Brasília (DF), o Millenium abriu espaço apenas para donos e defensores dos conglomerados da grande mídia brasileira que, nas mesas temáticas, vociferaram frases de efeito como: “o Plano Nacional de Direitos Humanos [PNDH] é totalitário”, “temos de ir para a ofensiva” e “vamos acabar com essa história de ouvir o outro lado na imprensa”.
Entre os autores dos discursos inflamados, estavam figuras como o geógrafo Demetrio Magnoli e o jornalista Reinaldo Azevedo. O mediador era William Waack (Globo). Todos, representantes de empresas que boicotaram a Confecom.
Em entrevista concedida à Fórum, o professor Bernardo Kucinski comenta o evento e faz uma análise da movimentação dos setores conservadores da comunicação no país.
Fórum – Como o senhor vê a organização do “Fórum Democracia e Liberdade de Expressão”?
Kucinski – Como algo artificial. É uma tentativa dos grandes empresários da comunicação de dizer que há censura no Brasil por parte do Estado. Esses discursos são atos de terrorismo para criar impedimentos a uma regulação do setor da comunicação. Houve algumas medidas isoladas do Judiciário com alguns veículos, mas ao Estado Brasileiro não se aplica dizer que existe censura. A discussão não cabe.
Fórum – A direita está se organizando para reagir a ações como a Confecom?
Kucinski – Os setores conservadores presentes nos meios de comunicação querem se antecipar a um debate que deve ser feito, que é inevitável. E o foco desse debate é o oligopólio dos meios de comunicação. Então, eles exacerbam o discurso, que se torna cada vez mais agressivo, raivoso.
Fórum – Como o senhor avalia o nome “Fórum Democracia e Liberdade de Expressão”?
Kucinski – Liberdade de quem? De expressão? De imprensa? Não sei se vão publicar isso, mas isso é só discurso pela liberdade empresarial. Para os conservadores liberdade de expressão é liberdade empresarial.
Fórum – Nas mesas temáticas chegaram a falar que “ouvir o outro lado” na imprensa é uma bobagem…
Kucinski – Eles já fazem isso. Acusam sem ouvir ou deixam para tentar no final do expediente para depois dizerem que não encontraram o “outro lado”. Veículos como a Veja beiram à imprensa marrom e infringem os próprios manuais.
Fórum – Ocorreram críticas contundentes ao Plano Nacional de Direitos Humanos. O que o senhor pensa disso?
Kucinski – Há argumentos falaciosos contra os direitos humanos. Assusta ver pessoas, algumas que até se diziam democratas, atacarem os direitos humanos. São reflexos de uma parcela da nossa sociedade que está mal, está doente.
Fórum – O ex-ministro da Fazenda e atual deputado federal Antonio Palocci, do PT, esteve no evento e afirmou “achar normal e uma característica do amadurecimento das economias a concentração”. Qual sua opinião?
Kucinski – Bem, o Palocci é do PT, mas caberia no PSL ou no PMDB tranquilamente. Ele sempre foi um liberal de carteirinha. Mas, com essas palavras, vai contra até o capitalismo. Oligopólio é a perversão do capitalismo, que prevê concorrência.
Fórum – A concentração já existente nos meios de comunicação não contraria o discurso conservador de censura e ingerência estatal?
Kucinski – Sim. Oligopólio é crime previsto em lei, tem que ser combatido. O Estado tem meios, instrumentos apropriados para avaliar e impedir a formação deles, como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Secretaria de Direito Econômico (SDE). No Brasil, o Estado é até leniente com os oligopólios praticados pelas empresas – com as hiper-fusões – incluindo os meios de comunicação.
http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/NoticiasIntegra.asp?id_artigo=8128
No Comment! Be the first one.