“Quando ninguém educa” (Editora Contexto) é o título de um livro cujo leitura recomendo. O autor é Ronai Rocha, filósofo e professor da Universidade Federal de Santa Maria. Com uma linguagem simples e clara, a obra trata de problemas concretos que deveriam interessar a todos os brasileiros. O subtítulo “questionando Paulo Freire” vai incomodar muita gente. Confira.
A tese está no título: o sistema escolar brasileiro está baseado em ideias e premissas equivocadas. Muito populares, essas ideias são divulgadas há décadas pelas faculdades de educação e gozam de uma aceitação acrítica pela esmagadora maioria dos educadores brasileiros. Elas se baseiam em autores e teorias que, embora muito populares no Brasil, não emplacaram em nenhum outro país.
O foco do livro é o currículo, o que se deve ensinar e o que está por detrás das discussões sobre o que e como ensinar. O autor mostra como a maioria dos educadores brasileiros – inclusive a mais importante rede de pesquisas em educação – se posiciona contra a ideia de currículo. As dificuldades na elaboração da BNCC – a Base Nacional Curricular Comum e o próprio resultado obtido – refletem as reservas que os educadores brasileiros mantêm a respeito do assunto.
Trata-se de leitura fácil, interessante, por vezes divertida, que toca nas questões do dia a dia dos pais, professores e educadores.
Para quem acredita nas ideias que dominam o imaginário dos educadores brasileiros, trata-se de uma oportunidade para refletir e questioná-las. Para quem tinha dúvidas ou não compartilha dessas ideias, o livro apresenta uma visão crítica fundamentada e profunda sobre o principal tema da educação: para que serve a escola e o que ela deve ensinar?
Este livro constitui um excelente instrumento para iniciar um debate que o país não consegue estabelecer.
Fonte: “Veja”, 04/08/2017.
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