A economista-chefe do IBRE/FGV, Silvia Matos, afirma que para o país entrar em um ciclo de crescimento sustentável é preciso que o governo equilibre as contas públicas.
Entramos em um ciclo de crescimento sustentável?
– A questão toda é que, para ser sustentável, é necessário equacionar a questão fiscal. Estamos em um compasso de espera para o novo governo resolver esses problemas. Claro que o crescimento econômico ajuda a melhorar o perfil das contas públicas, mas não resolve todos os problemas, até porque tem demandas por gastos, e a conta não fecha. O teto não se sustenta, temos regra de ouro (que proíbe o governo de se endividar para arcar com despesas correntes). Esse é um ponto que, se for equacionado, é um ritmo sustentável. Mas vai depender ainda um pouco da eleição.
Como a questão fiscal afeta o crescimento?
-O país tem juros reais baixos para ter uma retomada da economia. Os juros reais estão baixos porque se acredita que a dívida do governo é sustentável. Um governo que gasta muito acaba drenando recursos da economia e não tendo juros reais baixos. Hoje estamos convivendo com juros reais mais baixos em parte porque há uma promessa de que o governo vai reduzir seu tamanho na economia e a dívida vai diminuir como proporção do PIB. Se não fizer essa parte, todo mundo vai cobrar, e os juros terão de subir.
Como avalia o fôlego de saída da recessão?
– A melhor leitura é a do PIB sem contar a agropecuária. Neste cálculo, ele cresceu só 0,3%. Saímos da recessão com a ajuda da agropecuária, mas parece pouco após uma super-recessão. Para o PIB ser mais forte, teríamos que ter investimento crescendo em dois dígitos. Já víamos que o consumo ia desacelerar. As coisas estão funcionando, mas em ritmo mais lento do que se imaginava. A boa notícia é que a inflação surpreende para baixo.
Fonte: “O Globo”