A partenogênese refere-se a um tipo de reprodução assexuada de animais em que o embrião se desenvolve de um óvulo sem ocorrência da fecundação. Alguns tipos de vermes, de insetos e uns poucos animais vertebrados, como certas espécies de peixes, de anfíbios e de répteis, se reproduzem por partenogênese.
É um fenômeno raro na natureza, mas abundante no modelo político-econômico brasileiro.
O Brasil é um dos poucos países onde a corrupção só tem um elemento interveniente: o corrupto. Não precisamos de dois agentes para que a corrupção ocorra, uma vez que em todos os casos conhecidos, o corruptor parece não existir.
Nas poucas vezes nas quais o corruptor é mencionado vagamente, o seu intercurso no ato é eliminado por algum tipo de “exame de paternidade legal ou não”, cujo nome é devidamente mantido em sigilo, fato que o exime de qualquer responsabilidade.
Nos casos onde ele deixa “impressões digitais”, seu nome rapidamente some no segredo de justiça e nunca mais se houve falar dele. Após algum tempo aparece um novo corrupto, cooptado pelo mesmo protegido pelo segredo de justiça e dessa forma caminha o Brasil.
Trata-se de um fato incomum em países desenvolvidos onde existem corruptos e corruptores, mas não estranho para um país que inventou uma maneira única de um aluno ir do 1º ano do curso fundamental até a faculdade mantendo-se como analfabeto funcional durante todo o tempo, é um dos únicos países do mundo com 32 partidos sem ideologia e sem programa e o único que conseguiu transformar a última instância do judiciário na penúltima.
Portanto, apesar da imprensa a cada semana mostrar um novo escândalo envolvendo dinheiro público, apesar da Polícia Federal abrir inquérito sobre inquérito, apenas os “pequenos peixes” são pescados, enquanto que os corruptores ficam impávidos e devidamente protegidos, mostrando que a partenogênese não se restringe ao mundo vegetal e animal. Na verdade, ela é regra no mundo político-econômico brasileiro. O processo do mensalão até agora, foi a exceção que confirma essa regra.
Reportagem do jornal “O Estado de São Paulo” na edição do dia 1º deste mês, mostra a existência desse fenômeno raro na natureza, mas não em Brasília:
“Responsáveis por um terço das doações privadas a campanhas eleitorais nas duas últimas eleições, os fornecedores da Petrobras receberam sinais de deputados e senadores que integram a CPI mista instalada na semana passada no Congresso, de que a investigação dos negócios da estatal deve se concentrar em pessoas, não nas empresas. O propósito é evitar quebras de sigilo generalizadas que exponham os fornecedores-doadores”.
Na página A4, a manchete “Acordo entre governo e oposição blinda fornecedores da Petrobras na CPI mista”.
A razão para continuar existindo apenas corruptos, vem principalmente do patrocínio de campanhas políticas.
Neste “vale tudo por dinheiro”, rolam milhões que são manuseado pelos tesoureiros dos candidatos e pelo pessoal do marketing político, os quais transformam a campanha em um grande espetáculo de tecnologia, cores e movimento, com o objetivo de atrair um grupo maiúsculo de eleitores que só se impressionam com a forma e não com o conteúdo.
Na prática, tudo se passa como se a eleição e seus participantes fossem parte de um grande show, ao estilo holywoodiano, onde o cenário é falso, as paisagens não existem e os “atores” estão apenas interpretando um papel.
É dessa forma que a maior parte da população que vota, tem sido enganada.
É possível mudar esse cenário? Parece difícil, mas surgem alguns sinais de esperança no horizonte.
As pesquisas de opinião até agora disponíveis, mostram que há um grande número de declarações de votos em branco, nulos ou sem decisão (entre 25% e 33% dependendo do Instituto de Pesquisa).
Os que assim se declaram, indicam que estão atentos para o processo eleitoral. Tão ou mais atentos do que aqueles que já declararam seu voto.
Os que pretendem votar em branco ou anular o voto, são pessoas desencantadas com o processo político brasileiro e querem mostrar repulsa a esse processo. Mas isso ajuda pouco nas mudanças necessárias.
O voto de protesto não tem dado certo. Os descontentes deram 1 milhão de votos para o Tiririca e elegeram o Valdemar Costa Neto, que esse milhão de eleitores não pretendiam ver no Congresso. Foi assim com outros casos no passado, quando o voto de protesto não ajudou nada na mudança do sistema político vigente. Ao contrário. Aprofundou mais a corrupção e a falta de lógica desse sistema.
Foi o boicote às eleições na Venezuela (uma forma de protesto), que levou o país à situação que ele vive hoje. Para mudar o país precisamos de pressão da sociedade. Já vimos que as manifestações públicas não levam a nada, sejam elas pacíficas ou violentas. Em junho de 2013, o máximo que se conseguiu foram algumas promessas, logo esquecidas. O quebra-quebra que substituiu os milhares de manifestantes acompanhados de suas famílias, também não ajudou. Portanto nada melhor do que fazer pressão através do voto consciente. Devemos fazer uma grande cruzada para que todas as pessoas com direito a voto, compareçam em massa, em outubro, e escolham alguém da forma mais consciente possível.
Sugiro examinar com cuidado o portal www.transparencia.org.br, principalmente nos verbetes, “excelências”, “meretíssimos” e “às claras”, logo no topo da página inicial.
No verbete “excelências” descobrirão que 55% dos deputados federais e 47% dos senadores da atual legislatura, estão sendo citados em tribunais pelos mais diversos motivos. Ainda que sejam inocentados no futuro, deveriam ser riscados do Legislativo pelo voto consciente.
Mesmo porque, esta será uma excelente oportunidade para livrar o Congresso dos maus parlamentares. Outra oportunidade só dentro de 4 anos.
Precisamos preservar a democracia com todos os seus defeitos e para isso é importante que a sociedade exerça o voto, até como treinamento, porque de tanto errar a população acabará acertando.
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