Pouco mais de mil obras formam a primeira biblioteca feminista pública do Brasil, inaugurada em Guaianazes, na Zona Leste da capital paulista, no último sábado. Entre os livros disponíveis para consulta ou empréstimo estão publicações consagradas, entre os quais “O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir ou “A Mística Feminina”, de Betty Friedan e material de produção nacional, como a fotobiografia de Pagu. Demanda antiga do movimento de mulheres, o espaço foi inspirado na biblioteca feminista de Paris. Assim como na biblioteca francesa, aqui praticamente todo o acervo foi doado pelas próprias feministas – para sorte dos leitores, já que a maior parte das edições em português dos clássicos estão esgotadas ou fora de catálogo e não poderiam ser compradas.
– A história é sempre contada do ponto de vista dos homens. Queria que as mulheres pudessem ter referências de produção feminina em filosofia, ciências humanas, história – afirma a especialista em gênero Maria Lúcia da Silveira, idealizadora da ideia e funcionária da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres.
Segundo ela, o plano começou a ser gestado no início da gestão do prefeito Fernando Haddad, junto com o então secretário de cultura Juca Ferreira, que hoje é ministro. Como a Biblioteca Cora Coralina já dispunha de uma sala vazia, foi escolhida para abrigar o acervo feminista. A implantação pode ser feita a custos baixos. Maria Lúcia explica, no entanto, que a biblioteca feminista não é “só um conjunto de prateleiras com livros”. O espaço irá abrigar exibições de filmes e peças temáticos, saraus, exposições de artistas plásticas. E o plano é conseguir, pelo menos, triplicar o tamanho do acervo.
A própria ambientação da biblioteca foi o primeiro evento da biblioteca. Cerca de 20 mulheres da comunidade aprenderam xilogravura e pintura para produzir os autorretratos e desenhos que estampam as paredes do lugar. Há também um mural de fotos das lideranças femininas da zona leste da capital, conhecidas por serem aguerridas no movimento e fundamentais para as construções de alguns dos bairros da região.
A biblioteca fica aberta de domingo a domingo e os idealizadores garantem: os homens também são muito benvindos no espaço.
– O feminismo não é uma recusa ao homem, mas ao machismo – ressalva a artista plástica Biba Rigo, responsável pelas oficinas artísticas da biblioteca.
Fonte: Extra.
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