A recente absolvição de Jaqueline Roriz pelo plenário da Câmara dos Deputados indignou a opinião pública brasileira. A deputada se livrou do processo que pedia a cassação de seu mandato, após a revelação de um vídeo em que Jaqueline aparecia recebendo dinheiro de Durval Barbosa, delator do mensalão do DEM.
A decisão dos deputados mais uma vez colocou a questão da falta de ética no centro do debate. Qual é o reflexo dessa decisão na sociedade? Á classe política brasileira se distancia cada vez mais dos eleitores? Qual é o papel do indivíduo na defesa de seu interesse?
O Instituto Millenium entrou em contato com Paulo Kramer, cientista político, que falou sobre corrupção, ética e o que chama de “as duas heranças malditas do governo Lula”.
Instituto Millenium: Como você analisa a decisão do plenário em absolver a deputada Jaqueline Roriz?
Paulo Kramer: A grande diferença de votos que a absolveu simboliza a magnitude da distância que existe entre a sociedade e a classe política no Brasil. O país está avançando, está se modernizando em várias áreas, temos 90 milhões de novos membros da classe média, tentamos tirar o atraso em áreas tecnológicas, somos uma potência do agronegócio e mesmo assim, infelizmente, a nossa classe política e o nosso sistema eleitoral e partidário estão completamente obsoletos. O que causa indignação social é tratado com deboche pelos políticos. Enquanto não houver uma reforma política que modernize o sistema, nós não vamos avançar. O dilema da reforma é que quem as faz são os próprios políticos, que se beneficiam dos vícios atuais dos sistemas partidário e eleitoral.
Instituto Millenium: Qual é o efeito da impunidade sobre a população? Parece que no Brasil o crime compensa…
Kramer: O presidente Lula deixou duas heranças malditas. Ele não teve coragem de usar a grande popularidade que tinha para fazer reformas estruturais básicas, como a tributária, trabalhista, sindical e previdenciária, das quais o Brasil tanto precisa pra modernizar as instituições e reduzir o Custo Brasil. A outra herança maldita é a desfaçatez que ele demonstrou diante do mal feito e da corrupção, passando a mão sobre a cabeça de seus amigos mensaleiros. Tudo isso mandou sinais muito ruins para o sistema ético da sociedade. Lula, pela sua atitude, pelo deboche com que tratou a questão da ética, acendeu um sinal verde para todo tipo de malfeitoria que os políticos podem fazer contra a sociedade. Infelizmente vivemos as frequências dessa herança. A sujeira que Lula deixou é tanta, que não vai ser uma faxina comum que vai limpar. Vai demorar muito tempo.
Instituto Millenium: O que a população pode fazer para combater a corrupção?
Kramer: A sociedade deve usar as redes sociais, um novo instrumento de mobilização da vontade coletiva, para consolidar as indignações comuns como um dado universal. As pessoas precisam estabelecer ligações entre as malfeitorias políticas e a educação precária, a saúde ineficiente, toda a decadência das áreas sociais. Precisamos acordar e perceber que a roubalheira de dinheiro público no Brasil não é como em outros países, onde isso é tratado como um acidente. Aqui a corrupção é constitutiva do sistema político.
Não há indecência maior do que o tamanho das verbas publicitárias dos governos. Que produto eles vendem?
Sob o pretexto de informar a população, põem a serviço dos tripulantes do governo montanhas de recursos públicos.
Isso corrompe os órgãos de comunicação e permite “desinformar” à vontade.
existe uma grande distância sim, mas está na hora da aproximação. a indignação da população é
um bom sinal, que deve ser aproveitado para nao afastar ainda mais a população da politica