Materia de Benedito Sverberi na “Veja.com” mostra que os analistas apostam num descontentamento crescente com a incompetência do estado:
“Ao longo da semana, Veja.com realizou uma enquete com seus leitores a respeito de como o próximo governo deveria agir em relação aos gastos do estado. Na noite desta quinta-feira, perto de 700 votos haviam sido contabilizados.
A grande maioria, quase 70%, optou pela alternativa de que o próximo presidente deveria diminuir o tamanho da máquina pública, deixando-a mais eficiente e capitalizada para investir em infra-estrutura, educação e saúde. A segunda opção mais votada (perto de 20%) foi a que apregoava a redução do tamanho do estado ao mínimo possível.
Pediram um estado maior – com ampliação dos programas sociais, criação de novas estatais e maior apoio à constituição de grandes empresas nacionais – ao redor de 8% dos participantes. Em último lugar, encontrava-se a opção de simplesmente congelar a expansão do estado.
Os leitores de Veja.com também deixaram dezenas de comentários e perguntas sobre o tema. A maioria pediu maior eficiência administrativa do governo e aumento da transparência na divulgação de suas ações. Outro aspecto bastante destacado foi a crítica aos privilégios do funcionalismo público e aos elevados desembolsos com custeio da máquina estatal, sem que haja a correspondente tradução destas despesas em serviços de ‘primeiro mundo’ à população. Muitos pediram o reforço da atuação governamental no provimento de segurança pública, educação e saúde.
Avaliação dos especialistas – Na avaliação do cientista político Christopher Garman, da consultoria americana Eurasia, o resultado da pesquisa traduz o anseio de apenas uma parcela do eleitorado nacional. “A demanda por um estado menor ainda é incipiente no Brasil e se concentra em grupos de pessoas com um nível de educação mais alto e que vivem em grandes centros urbanos”, explicou. Possivelmente, aponta o especialista, a enquete de Veja.com evidenciou a opinião deste grupo em particular.
Pesquisas encomendadas pela Eurasia revelam que o brasileiro médio simpatiza, na verdade, com as figuras tanto de um ‘estado grande’ (com forte atuação de estatais e elevado número de funcionários públicos) quanto de um ‘estado interventor’ (isto é, que tenha poder de ditar os rumos da economia).
Contudo, estes mesmos estudos, aponta Garman, começam a evidenciar mudanças. Hoje, segundo ele, o brasileiro entende com maior clareza, por exemplo, que uma carga tributária pesada – fruto de um estado dispendioso e ineficiente – afeta diretamente a sua vida. “É uma tendência ainda um pouco difusa, mas chama atenção porque a parcela da população que paga imposto de renda é ainda relativamente pequena”, afirmou.
Maior espaço para um discurso liberal – O cientista político e diretor-presidente do Centro de Liderança Pública (CLP), Luiz Felipe d’Avila, aposta que uma mudança na forma como as pessoas percebem o estado é uma tendência irreversível. Os ingredientes desta transformação, segundo ele, estão na própria economia: o aumento da renda, a formalização do mercado de trabalho e a urbanização.
A comprovação desta tendência, segundo d’Avila, está numa pesquisa realizada por Ricardo Hausmann, especialista em desenvolvimento econômica da Universidade Harvard. O estudo debruçou-se sobre o crescimento da renda que acompanha a evolução do PIB, e seus desdobramentos. Uma das conclusões é que, se uma economia cresce 4% ao ano – o que tem sido o caso brasileiro desde a estabilização –, a renda média da população dobra a cada 14 anos. Neste cenário, o rendimento de um jovem poderá ser até cinco vezes maior que aquele que seu pai costumava obter. Na comparação com o de seu avô, o crescimento é de 15 vezes.
O Brasil, aponta o diretor da CLP, está imerso neste processo, que trará implicações políticas importantes já nos próximos anos. “Quanto mais a pessoa ascende na escala social, mais paga impostos. Da mesma forma, ela passa a sentir na pele a incompetência do estado. Sofre com a burocracia, tem dificuldades para fazer negócio e é obrigada a pagar dobrado por tudo; pois além dos impostos, tem de arcar com segurança privada, escola particular dos filhos, plano de saúde, etc”.
Estes novos brasileiros formarão um contingente cada vez mais presente, abrindo espaço para abrigar um discurso mais liberal, isto é, avesso ao peso do estado, pró-redução da carga tributária, apreciador da meritocracia e consciente do dever do governo de lhe prestar serviço, e não o contrário. Caberá aos políticos ter a coragem de representar esse grupo; algo que Garman e d’Avila dizem ocorrer de forma precária no país, diferentemente do observado nos Estados Unidos, na Europa e mesmo em alguns países da América Latina. No Brasil, segundo eles, os candidatos, pelo menos segundo o que externalizam, são, no máximo, sociais democratas.”
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