Eu tenho muita fé na sorte, e descubro que o quanto mais eu trabalho,
mais sorte tenho. Stephen Leacock
Tempos de crise. Crise na economia e na política, eminência de crise lá fora, China, petróleo, mundo conectado. O pior da crise é o que se sente dentro de casa, quando alguém é demitido e as chances de conseguir um novo emprego são baixas.
Neste artigo recente, publicado no site do Museu do Amanhã, alerto que daqui para frente, independente de crise econômica, mas em função dos avanços da tecnologia, muitas carreiras estão sob perigo de desaparecerem por força de braços, pernas e, principalmente, cérebros eletrônicos. Desemprego em massa?
Como forma de se manter competitivo, a luta do profissional no futuro será por criar e recriar, N vezes ao longo da vida, a sua capacidade de realizar atividades produtivas (e remuneradas). Flexibilidade será a palavra de ordem. Para tal, há que se pensar como empreendedor, empreendedor de si mesmo, sempre atualizando sua atratividade como profissional.
E o que é ser empreendedor de si mesmo? Veja a seguir algumas das características desejáveis:
– Perseverança - o empreendedor é turrão, insistente, perseverante. Um empreendedor de verdade persegue seus caminhos e objetivos até o limite e só desiste quando recebe um “não” bem claro. E, ainda assim, insiste um pouco mais e pergunta “não, por quê? o que posso fazer para tornar este ‘não’ um talvez?”.
– Disciplina – o empreendedor cria percepções o tempo todo e, portanto, não dá para ser indisciplinado. A disciplina de chegar na hora, responder a tempo, manter compromissos, atender bem o cliente e, com isto, construir uma imagem de responsável, capaz, interessado, sério, profissional, enfim, alguém que se pode confiar.
- Apetite para vender - um empreendedor de si mesmo deve sempre pensar em como se vender. Lustrar o currículo no Linkedin é um bom começo. Ter um domínio próprio, um cartão de visitas pessoal, uma assinatura de e-mail bem feita e completa. Tudo isto cria a percepção de disponibilidade para fazer negócios.
- Networking – se quanto mais trabalho, mais sorte tenho, quanto mais gente conheço, mais sorte tenho também. Para ser empreendedor de si mesmo deve-se levar a sério as outras pessoas, se interessar por aquilo que elas têm a dizer, por suas histórias, seus problemas e ajudar, sempre, com seus conhecimentos e contatos e, com isto, criar uma grande e diversa rede, suficientemente vasta para que as oportunidades apareçam. Portanto, deve-se sair de casa, frequentar eventos, visitar as pessoas e nunca almoçar sozinho.
– Uso de tecnologia – hoje já não dá para imaginar um profissional desempenhando atividades produtivas sem algum conhecimento, ainda que básico, de tecnologia. Meu ponto aqui é outro: afirmo que quanto mais se conhece e utiliza tecnologia para auxiliar nas funções de empreendedor de si mesmo, mais eficientes e econômicos somos, e a nossa imagem tem um alcance mais longo.
– Tolerância a risco – a vida profissional será pautada por projetos, uns longos, outros curtos, em alguns meses sobrará dinheiro, noutros faltará. Tolerância a risco e disciplina para poupar quando sobrar são necessárias para tocar a vida como empreendedor de si mesmo.
– Sede por aprender – o mundo está mudando muito rápido. A tecnologia está transformando negócios seculares em questão de anos. Ninguém, em idade produtiva, pode se dar o luxo de parar de aprender. Não somente saber mais de sua área de formação ou atuação, mas estudar outro tema, complementar ou não, pois talvez seja em uma nova área que mais oportunidades surgirão. Por exemplo, tenho visto muita gente buscando cursos de programação (há diversos gratuitos na internet), pois o mundo inteiro está em busca de programadores.
– Ansiedade na medida certa – para não travar, a ansiedade deve manter o empreendedor sempre alerta, deve fazê-lo questionar as decisões tomadas até aqui: “Será que daqui pra frente as premissas continuarão válidas? Será que devo buscar outros saberes, conexões, mercados para me manter atualizado e atrativo?” Há uma brincadeira entre empreendedores que diz que alegria de empreendedor só dura 5 minutos e, logo, há que se voltar ao trabalho para pagar as contas do próximo mês.
– Trabalho pesado - aquela carreira na multinacional que cai do céu ou aquele emprego concursado estão cada vez mais raros. A competição é feroz. Chineses, indianos, europeus orientais, existem tantos possíveis competidores interessados em fazer mais por menos que a única alternativa que temos é trabalhar muito, estudar muito, fazer muito networking, se agarrando em cada atividade, setor, rede de contatos e conhecimentos que temos pelo bem da competitividade.
Quando se é funcionário de alguma empresa, especialmente de uma grande empresa, o cartão de visitas abre portas. Sem emprego e sozinhos, somos apenas mais um ‘Sr. ou Sra. Quem?’ para quem nos desconhece. Empreender, neste caso, é colocar conhecimentos e conhecidos, estudos, trabalho duro, perseverança e seriedade para encontrar um novo projeto.
Acredito que algumas habilidades podem ser adquiridas ao longo do tempo, mas quando o profissional está aberto a aprender, mesmo sabendo de sua ampla experiência e conhecimento, ele estará mais preparado para atender a habilidade mais esperada das empresas num profissional que é, na minha opinião: capacidade para trabalhar com problemas complexos e conseguir resolvê-los com criatividade e paciência.