Um relatório divulgado nesta terça-feira pelo Movimento Todos Pela Educação revela que apenas 7,3% dos alunos brasileiros do 3º ano do ensino médio têm aprendizado adequado em matemática. Em língua portuguesa, o índice é de 27,5%.
Segundo a pesquisa, que levou em consideração dados da Prova Brasil e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2015, em matemática o índice é ainda menor do que o observado em 2013, quando 9,3% dos estudantes tinham rendimento recomendado para a etapa. No caso de língua portuguesa, o percentual foi um pouco maior que os 27,2% registrados em 2013, mas, de acordo com os pesquisadores, essa diferença não é relevante estatisticamente, o que significa que o ensino dessa disciplina ficou estagnado no período.
A pesquisa evidencia também um duradouro retrocesso nesse segmento escolar nos últimos 18 anos. Em 1997, quando começa a série histórica analisada pelo Todos Pela Educação, a taxa de alunos com aprendizado adequado em matemática no 3º ano era de 17,9%. Ano após ano, a qualidade do ensino foi caindo até chegar ao índice de 2015 (7,3%).
Em língua portuguesa, embora os números sejam maiores, a queda de qualidade também é nítida. Em 1997, 39,7% dos alunos tinha o nível de aprendizado recomendado para o 3º ano do ensino médio. Desde então, houve um retrocesso de mais de 12 pontos percentuais até 2015.
O desempenho das regiões do país separadamente também não é bom. Em Matemática, todas as áreas apresentaram queda no índice de alunos com aprendizagem adequada. A região com maior índice é o Sudeste (9,3%), seguida por Sul (9%), Centro-oeste (7,7%), Nordeste (4,7%) e Norte (3,5%).
Na parte de Língua Portuguesa é possível observar alguns avanços. As regiões Nordeste e Norte conseguiram impulsionar significativamente o aprendizado. A primeira passou de 18,6%, em 2013, para 20,4%, em 2015, já a região Norte passou de 16,2%, em 2013, para 20,6%, em 2015. Mas, ainda assim, são as regiões com as piores taxas. Em primeiro aparece Sul (32,9%), depois Sudeste (32,2%) e Centro-Oeste (30,9%).
Progresso distante
A pontuação dos estados também parece longe de um desempenho satisfatório. Em matemática, por exemplo, apenas duas unidades da federação conseguiram avançar no percentual de alunos com aprendizagem adequada no ensino médio: Amazonas e Roraima. Entre os demais, apenas o Rio Grande do Norte não apresentou variação e todos os demais retrocederam na taxa.
Apesar de estar entre os estados com melhor índice de aprendizagem adequada no ensino médio, o Rio teve queda em ambas as disciplinas quando comparadas as taxas de 2015 com as de 2013. Em matemática, em 2015, apenas 9,3% dos alunos da rede fluminense tinham aprendido o necessário. Em 2013, eram 13,1%. Em português, 34,4% tiveram aprendizado adequado em 2015 e 36% em 2013.
Obstáculos no caminho
Nesses 18 anos, o Brasil levou muitos adolescentes para as salas de aula, reduzindo significativamente as taxas de pessoas nessa faixa etária fora da escola, mas não conseguiu promover um ensino de qualidade para esses estudantes, o que pode explicar a queda nos índices.
— Isso é um pouco a crônica da nossa política pública, somos bem sucedidos no processo de expansão, poucos países fizeram no ritmo que fizemos, mas não conseguimos expandir com qualidade — afirma Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação.
Os obstáculos para um melhor desempenho não param por aí. Outro desafio está na etapa que precede o ensino médio, o ensino fundamental II (do 6º ao 9º ano). No 5º ano, cerca de 54,7% dos alunos têm aprendizado adequado em português, e 42,9% deles têm aprendizado adequado em matemática. Mas os dados mostram que essa proficiência vai caindo ao longo das etapas da educação básica.
No fim do ensino fundamental II, justamente antes de ingressar no ensino médio, somente 33,9% dos estudantes aprenderam o que deveriam na disciplina das letras, enquanto na área dos números, o índice observado é de 18,2%.
— Há 10 anos, quando vimos que havia alunos do 5° ano do ensino fundamental com desempenho melhor, pensamos que, quando eles chegassem ao fundamental II, elevariam o patamar da nova etapa, mas não foi o que aconteceu. O que demonstra que o desenho das etapas está enforcando um potencial de aprendizagem que a gente sabe que as crianças têm. O fundamental II é um nó invisível, ninguém olha para ele, e, muitas vezes, é o “x” da questão— observa Priscila, ressaltando que a falta de professores com formação adequada é um dos grandes complicadores dos anos finais do ensino fundamental.
De acordo com a educadora, um dos principais pontos de preocupação no que diz respeito aos anos finais do ensino fundamental é a falta de professores com formação adequada. No início do ano passado, o Ministério da Educação afirmou que cerca de 39% dos 518.313 professores que atuam no ensino fundamental II e no ensino médio não tinham a formação adequada para lecionar. Ao considerar que alguns profissionais dão aula em mais de uma disciplina, o índice sobre para 52% de professores em atividade que estão com qualificação deficiente.
— Existe um déficit enorme de professores com licenciatura adequada, o professor não é formado para dar a aula que está dando. Além disso, quando passa do 5º ano para o 6º, o aluno perde vínculo, porque passa a ter professores variados. Esses professores, muitas vezes, estão com trabalhos variados e não conversam entre si— explica Priscila.
Fonte: “O Globo”.
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